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Accioli no centenário da EGBA

 

Luis Guilherme Pontes Tavares – Diretor de Cultura da ABI

A Empresa Gráfica da Bahia (EGBA) completará seu 1º centenário em 07 de setembro de 2015. Falta pouco a data festiva. Tenho insistido que a empresa aproveite a oportunidade para marcar a data oferecendo aos leitores nova edição de Memórias históricas e políticas da Província da Bahia, do coronel Ignacio Accioli de Cerqueira e Silva (Coimbra, 1808-Rio de Janeiro, 1852), obra em seis volumes que a EGBA, quando ainda era denominada Imprensa Oficial do Estado (IOE), publicou, entre as décadas de 1920 e 1940, a segunda edição, com anotações do historiador Braz Hermenegildo do Amaral.

A obra é reconhecida como fundamental para se estudar a história baiana do período do Império. Foi publicada pela primeira vez entre 1835-1852. A 2ª edição aqui referida é considerada pelo professor Cid Teixeira como irretocável, devido ao cuidado extremoso da equipe chefiada pelo diretor industrial da IOE, o editor e gráfico Arthur Arezio da Fonseca (1873-1940). Há um sebo da Cidade do Salvador que está negociando essa coleção por R$ 3.000,00. Os trabalhos que defendi no mestrado – “A continuidade define a linha” – e no doutorado – Nome para compor em caixa alta: Arthur Arezio da Fonseca (Salvador: EGBA, 2005) – autorizam-me a manifestar minha opinião a respeito das comemorações de 2015. Os dois trabalhos tratam da EGBA. O primeiro examina produção editorial da empresa entre 1915-1990 e o segundo trata da vida e da obra de Arthur Arezio, esse baiano que ajudou a fundar a empresa e ingressou na memória dos que lhe sucederam como um exemplo maior de gráfico e empreendedor.

O diretor geral da EGBA, Luiz Gonzaga Fraga de Andrade, que presidirá a Associação Brasileira de Imprensas Oficiais (ABIO) até 2014, é sensível à proposta acima, porém a decisão final deveria ser tomada pelo Conselho de Administração, constituído de cinco membros. A propósito do centenário, seria elegante promover reunião com os ex-diretores gerais da empresa e ouvir suas sugestões a respeito das festividades que se aproximam. Estão aí, dentre outros, Manuel Dias, Germano Machado, Othon Jambeiro, Gorgônio Neto, Fernando Vita, Tasso Franco.

Publicado em: 11.09.2013

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A belíssima exposição dos Lopes Rodrigues

Consuelo Pondé – Diretora da ABI

Em primeiro lugar, desejo cumprimentar a museóloga Sylvia Menezes Athayde por mais uma exposição memorável. Pela exposição em si e também pelo precioso “folder”, o que demonstra o apuro e o bom gosto da “curadora” daquele Museu, sempre meticulosa e precisa.

Por que os baianos de hoje não valorizam uma realização cultural dessa natureza? Com toda certeza, em qualquer cidade do Sul do Brasil a exposição estaria “bombando”. Mas, minha gente, ainda está em tempo de apreciá-la, pois a mostra está aberta ao público, no Museu de Arte da Bahia (Vitória) até 16 de setembro.

Tudo que vem acontecendo nesta terra do Senhor do Bonfim está me parecendo muito diverso do que ocorria no passado. Certo que existem outras “atrações” a convocar as pessoas para os mais diversos eventos. Os mega shows conseguem reunir um imenso número de “pagantes”, que, de pé, pulam a noite inteira durante os tais espetáculos, sem contar com o tempo de espera nas bilheterias e nas filas de acesso a esses divertimentos.

Por isso mesmo, parece-me muito estranho que não se dê mais valor às belas manifestações artísticas do passado, não se procure conhecer as obras de arte da Bahia, muito especialmente de dois grandes mestres da pintura baiana e brasileira, reunidos, na mesma oportunidade, para que possa apreciar a grandeza de suas obras. O mesmo se pode dizer de referência às orquestras, que se apresentam na Catedral Basílica aos domingos.

O que está acontecendo com a Bahia? Será que só existe tempo e lugar para basbaquices? Futilidades, violência, bandas musicais, futebol, pagodes de baixo nível, e outros “muquifos”?

Voltando ao objeto dessas considerações, vale lembrar que tanto João quanto Manoel Lopes Rodrigues deixaram um legado de extraordinária importância para as artes no Brasil. O primeiro artista, João Francisco Lopes Rodrigues, nasceu em Salvador a 19 de dezembro de 1825, tendo falecido a 11 de outubro de 1893. De seu casamento com Isabel Teixeira Machado nasceram seis filhos, tendo um deles, Manoel, seguido a carreira artística do pai, de quem herdou a vocação para a pintura.

João Francisco foi aluno da aula pública de desenho, frequentou o atelier de Teófilo de Jesus, ensinou no Liceu de Artes e Ofícios, em colégios e casas particulares. Foi professor da Escola de Belas Artes, de 1877 a 1893, “desenhador da repartição de Obras Públicas da Província da Bahia, em cujo cargo se aposentou. Também auxiliou o pintor Miguel Navarro y Canizares, tendo sido um dos fundadores, em 1877, da Academia de Belas Artes da Bahia.

Quanto a Manuel Lopes Rodrigues nasceu em Salvador aos 31 de dezembro de 1859 e faleceu aos 22 de outubro de 1917. Foi aluno de desenho e pintura do próprio pai, mas precocemente, aos 17 de anos, foi nomeado professor da 1ª classe de desenho do Liceu de Artes e Ofícios, prosseguindo na mesma função, no ano seguinte, com a fundação da Escola de Belas Artes. Recebeu várias medalhas de ouro e prata pelos seus extraordinários trabalhos.

Teve mais oportunidade de crescer do que o seu genitor, pois, em 1882 seguiu para o Rio de Janeiro para fazer Curso Superior de Belas Artes, mantendo-se na antiga capital do Brasil até 1885. Além disso, recebeu apoio de ilustres baianos, tais como, Luís Tarquínio, José Augusto de Figueredo e Joaquim da Costa Pinto. Depois, recebeu ajuda do Imperador, D. Pedro II, tendo obtido recursos para estudar em Paris, em 1895.

Na Capital da Luz frequentou a Escola de Artes Decorativas, sendo discípulo de Rafael Collin. Ingressou, em seguida, na Escola Superior de Belas Artes, tendo como mestre dois consagrados artistas: J.B. Lefebvre e Robert Fleury. Teve a sorte de ser contratado pela “Union Française de Jeunesse”, sustentada pela Municipalidade de Paris, sendo-lhe ainda confiado o curso misto de desenho (modelo vivo), em cuja instituição foi premiado com duas medalhas pelos relevantes serviços.

Ainda lhe foi dada a oportunidade de permanecer durante dez anos na Europa, onde visitou a Holanda, a Bélgica e a Itália, com o privilégio de estar na Academia de São Lucas, em Roma. Durante o período republicano foi contemplado com subsídios do governo, graças à iniciativa de Rui Barbosa, recebendo a pensão de seis mil francos anuais, ajuda extinta em 1894.

Com o propósito de renovar essa ajuda, voltou ao Rio de Janeiro, retornando à Europa no ano seguinte. Estava em Roma quando recebeu a incumbência de pintar uma alegoria relativa à República, a ser colocada no Palácio do Governo. A encomenda orçava em três mil francos, excelente para aquele crucial momento do artista, desde quando fora suspensa a pensão governamental, que recebia desde 1889.

Fez o caminho de volta para a Bahia em 1896, tendo sido, imediatamente, nomeado professor de desenho e pintura da Escola de Belas Artes. Entre seus discípulos estavam os consagrados pintores: Presciliano Silva e Alberto Valença. Faleceu nesta Cidade do Salvador aos 57 anos, no dia 22 de outubro de 1917.

As obras desses dois grandes mestres da pintura baiana estão à disposição dos interessados em Arte, sendo de advertir que, dentre muitos quadros expostos estão alguns de propriedade particular, razão pela qual a exposição deve, obrigatoriamente, ser visitada. Afinal, quem sabe se haverá outra oportunidade de apreciar tão belos quadros de tão insignes pintores?

Acho que esta é a oportunidade de apreciar as belezas produzidas pelos renomados baianos e por todos os cultores das Belas-Artes.

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Tributo a França Teixeira

José Jorge Randam – Vice-presidente da Assembleia Geral da ABI

Fomos meninos pobres! Aprendemos, desde criança, que o caráter do homem é forjado também pelas dificuldades que na sua história carrega, fazendo-o um lutador que vence ou um perdedor que se entrega a lamúrias e acusações, desviando-o de suas vitórias.

Fomos, coincidentemente, radialistas, jornalistas, comunicadores na TV, publicitários, empresários, traçando cada qual uma linha que hoje se faz história na Bahia, não importando os esquecimentos …

França, dispondo da mídia, atuou com estilo próprio. Criador, polêmico e corajoso! Neste e em outros setores, seja no político ou no Tribunal de Contas do Estado da Bahia, foi singular e, até um tanto revolucionário. Nesses últimos dias, falou-se muito de suas marcantes características que tornaram muito popular.

Há onze meses tive a experiência de uma isquemia cerebral, aprendendo com a dor das limitações, valorizar cada momento e dia da vida. Cheguei do hospital sem alardear fiéis amigos e me permitir refazer meus hábitos (antes, um tanto rígidos). Apurei mais a escuta da voz mais alta e mais baixa de Deus, que como o vento, segreda coisas que nunca tinha ouvido. Ouço-O da varanda e casa, na voz dos pássaros, no céu claro ou nublado, desde o verão a este ameno e belo outono de Salvador. Vejo-O ainda, na água azul ou mesmo turva da piscina ou no movimento dos bichinhos domésticos, que antes nunca me haviam despertado atenção!

Reaprendi coisas, neste período, com os filhos, amigos, fisioterapeutas, médicos, netos, sorrisos da bisneta, bem como com França. Não sabia como declarou muitas vezes, em suas visitas, do seu afeto e admiração por mim. Não sabia como vulcão que parecia ser, com sua voz de trovão, um humano amigo, cheio de ternura no olhar, nos gestos e nas mãos dadivosas, trazendo-me guloseimas, para desespero de Odete, cuja dieta vem seguindo à risca. Suas visitas eram como ele, originais, inesperadas. Algumas à noite, face às suas ocupações. Falávamos de tempo do rádio, de ontem e de hoje, entre outras coisas. e o vi, de fato, revelando-se, o França de agora, mais tranquilo, fazendo-se irmão, reivindicando meu acesso ao tratamento do SARAH, acreditando numa recuperação, mais breve.

Dizia-se notívago. Dormia às cinco da manhã. Durante a noite, lia e trabalhava. Falava da admiração e do amor filial que tinha pelo Monsenhor Sadoc, seu pai espiritual: – “Hoje lhe levei uns beijus. Ele gosta”, disse-me certa feita.

Quis ir ao jardim da Saudade, dar meu último adeus ao meu amigo irmão. Não me permitiram … Acho que zelavam pela minha saúde emocional! Assim, permaneci em casa cismando de como éramos diferentes, seja como pessoas, seja como comunicadores. Estilos totalmente diversos. Contudo, falava mais alto a amizade e a irmandade, independentemente de rótulos e do tempo!

Portanto, França, para seu conhecimento, lá no outro plano, seja onde estiver, fique sabendo, que já passei para o uso da muleta e agora estou dando passos, sozinho. Você França, que não viu estes últimos progressos, veja-os agora, nesta nova dimensão, pois nela, acredito piamente.

Shalom

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Viva o povo brasileiro

Samuel Celestino – Presidente da Assembleia Geral da ABI

O que pouco apareceu no grito das ruas que abalou o prestígio da presidente Dilma atingiu, também, e em cheio, o Congresso Nacional. A pesquisa realizada pelo Ibope que acaba de ser divulgada evidencia, com absoluta clareza, que não é este o sistema político que os brasileiros desejam, marcado pela corrupção em seus diversos aspectos. O expressivo percentual de 85% demonstra, insofismavelmente, o desejo, e já de uma reforma política consistente para ser posta em prática nas eleições do próximo ano.

O Congresso tem agosto e setembro para atender os eleitores. Uma reforma como tal, não se pode negar, atinge também a presidente, embora, no caso, ela tenha tentado, por linhas tortas, resolver a questão através de um plebiscito, a esta altura impossibilitado pelo tempo que resta. As mudanças eleitorais só podem ser realizadas no mínimo até um ano antes das eleições.

Ao apresentar a pesquisa Ibope pelo Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), os integrantes do movimento certamente não imaginavam que o desdém dos brasileiros em relação à legislação eleitoral tivesse tamanha dimensão. A pesquisa foi contratada pela OAB, Ordem dos Advogados do Brasil, que mais uma vez, presta um grande serviço ao País, revelando um pensamento que não foi exposto, com clareza, pelas manifestações populares nas três semanas de junho. Será necessário que haja uma coleta de assinaturas, através de um projeto popular, desejado por 92% dos entrevistados, tal como aconteceu com a Lei da Ficha Limpa.

Esse elevadíssimo percentual equivale a um soco na inoperância política dos parlamentares, na medida em que demonstra que o povo brasileiro quer corrigir o que eles, por interesses pessoais e partidários, não conseguem fazer. E não fazem porque não querem. O povo tomou o espaço do Congresso e passa a determinar as necessidades do País, revelando a inoperância das duas Casas Legislativas mais importantes do Poder Legislativo, a Câmara dos Deputados e o Senado. Oitenta e cinco por cento dos consultados exigem que a reforma tenha efeito imediato. Não são somente esses aspectos que foram pesquisados. De há muito tempo se pede que as doações para as campanhas políticas não sejam feitas pelo setor privado abrindo brechas para cambalachos e corrupção desvairados. Quem dá, quem financia, quer troco como resposta. Oitenta por cento são contra as doações de empreiteiras, empresários e interessados em burlar o erário da República e dos Estados federativos.

Deseja-se, também, que 90%, portanto quase fechando o número absoluto, 100, exigem punição rigorosíssima ao descarado e banalizado caixa-dois (que os mensaleiros alegaram com pouca vergonha no processo de condenação do Supremo Tribunal). É uma forma de corrupção aberta. Os políticos se utilizarem de tal expediente, porque, como o caixa-dois não é declarado, burla-se a Justiça Eleitoral. E tem mais: em muitos casos é usado para enriquecimento pessoal, no caso de eleição em segundo turno, quando os candidatos com maior possibilidade de vencer recebem altíssimos valores da iniciativa privada para gastos de final de campanha. Gasta-se uma parte e embolsa-se o resto.

Aqui na Bahia já aconteceu muitos casos semelhantes. A punição desejada para tal prática deve, efetivamente, ser rigorosa e inaceitável pelo Poder Judiciário, para que não tenha também que responder pelos desvios. Esta pesquisa Ibope chega no momento certo. Abala o Legislativo e o Executivo. Na semana passada, por exemplo, revelou-se que devedores da Receita Federal fizeram fortes doações para campanhas eleitorais, inclusive para a presidente Dilma Roussef.

Enfim, se esse País for passado a limpo, será feito não pelos adoradores do poder, mas, sim, pelo povo brasileiro. A coleta de assinaturas já está sendo feita. Nas ruas.

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