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Conflitos atuais correspondem à 3ª Guerra Mundial fragmentada, diz Papa Francisco

“Hoje, depois do segundo fracasso de uma guerra mundial, podemos falar de uma guerra combatida por partes, com crimes, massacres e destruições”, afirmou o Papa Francisco, apelando à paz para impedir a “loucura bélica”. Ele disse que a série de conflitos atuais ao redor do mundo corresponde efetivamente a uma Terceira Guerra Mundial “fragmentada” e condenou o comércio de armas e os “idealizadores do terrorismo” de semear a morte e a destruição. O pontífice fez estas afirmações na homilia pronunciada no cemitério militar de Fogliano Redipuglia, durante visita ao maior memorial de guerra da Itália, um grande monumento da época do fascismo, onde mais de 100 mil soldados que morreram na Primeira Guerra Mundial estão enterrados.

O papa iniciou sua breve visita ao norte da Itália orando em um cemitério próximo, onde estão enterrados 15 mil soldados de cinco nações do império austro-húngaro, que estavam no lado derrotado da guerra que eclodiu há 100 anos. Em seguida ele celebrou a missa no sacrário de Redipuglia, uma colossal arquibancada de pedra coroada por três cruzamentos construída a mando de Benito Mussolini em 1938 e que hoje em dia constitui o maior monumento aos caídos de guerra de todo o país. A intenção do papa foi a de invocar a paz e orar pelos caídos em todos os conflitos bélicos, visitando os dois cemitérios, para honrar os soldados mortos de todos os lados.

Nos últimos meses, Francisco fez repetidos apelos pelo fim dos conflitos na Ucrânia, no Iraque, na Síria, em Gaza e em partes da África. “A guerra é irracional. Seu único plano é causar destruição. Ela busca crescer ao destruir. Ganância, intolerância, a cobiça pelo poder. Esses são os motivos que estão por trás da decisão de ir à guerra e eles são muito frequentemente justificados por uma ideologia”.

Francisco disse que a guerra é “uma loucura que cresce destruindo e estragando tudo, até a relação entre irmãos e o mais formoso que Deus criou: o ser humano”. Também lembrou que hoje em dia há muitas vítimas porque “na sombra” convergem “interesses, estratégias geopolíticas e ganância por dinheiro e poder”, que frequentemente encontram justificativa na ideologia.

Ele criticou a indústria armamentista, “que parece ser tão importante”, e a rotulou, junto de outros fatores, de “planificadores do terror” e de “organizadores do desencontro”. O papa fez uma declaração contra a indiferença ao lembrar a resposta de Caim ao ser perguntado por Deus pelo paradeiro de Abel: “A mim me importa? Acaso sou eu o guarda do meu irmão?”. “Com coração de filho, de irmão, de pai”, o papa pediu que a humanidade passe desse “A mim me importa?” para “o pranto, a reação contra o belicismo porque a humanidade tem necessidade de chorar, e esta é a hora”.

*Informações da EFE (via Estadão) e da Rede Angola.

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Decapitação de britânico fortalece resposta internacional contra Estado Islâmico

Militantes do Estado Islâmico (EI), organização fundamentalista sunita que controla amplas áreas do Iraque e da Síria, divulgaram na noite deste sábado (13) um vídeo que mostra a terceira decapitação realizada pelo grupo em menos de um mês. Dessa vez, o alvo foi o britânico David Haines, de 44 anos, funcionário de ajuda humanitária que havia sido sequestrado no território sírio em março de 2013. Ele coordenava a distribuição de água potável e mantimentos, e a instalação de tendas no campo de refugiados de Atmeh, junto à fronteira com a Turquia. A nova decapitação dá força à resposta internacional contra o EI. Países que formam a “frente unida” de combate aos islamistas da Síria e do Iraque reúnem-se esta segunda-feira (15), em Paris, e os Estados Unidos garantem participação de estados árabes na campanha.

As imagens são similares às que exibiram as decapitações dos jornalistas americanos James Foley e Steven Sotloff no mês passado. O vídeo foi publicado pelo Estado Islâmico um dia depois de a família de Haines, que cresceu na Escócia, ter divulgado uma mensagem àquela organização implorando por um contato, e na véspera da realização de uma conferência internacional sobre o Iraque, promovida pelo Presidente da França, François Hollande. A reunião em Paris juntará representantes de dezenas de países, entre os quais o ministro britânico da defesa, Philip Hammond, e o secretário de Estado norte-americano, John Kerry.

O primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, prometeu “perseguir e caçar” os islamistas que raptaram e decapitaram o britânico David Haines, na Síria, e garantiu que o seu Governo tomará todas as medidas para pressionar, desmantelar e extinguir o Estado Islâmico, tanto a nível doméstico como no estrangeiro. “O assassinato de David Haines é um ato de pura maldade. Meu coração está com a família dele, que mostrou extraordinária coragem e força. Vamos fazer tudo que estiver em nosso alcance para caçar esses assassinos e garantir que eles enfrentem a Justiça, não importa quando tempo isso leve”, tuitou o primeiro-ministro britânico, David Cameron.

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David Cameron não assumiu novos compromissos – a novidade foi a urgência e a dureza de Cameron após a morte de David Haines. “Passo a passo, vamos pressionar, desmantelar e no fim destruir o EI e o que ele representa. Vamos fazê-lo de forma calma e deliberada, com uma determinação de ferro”, declarou. Uma escalada na ação contra o EI parece inevitável, embora o líder britânico tenha resistido a confirmar um papel ativo da Royal Air Force na campanha aérea em curso no Iraque. Mas “à medida que esta estratégia se intensifica”, Londres “está preparado para assumir o papel que for necessário para erradicar esta ameaça e garantir a segurança do país”, indicou.

Haines tinha sido exibido como refém e ameaçado de morte no fim do vídeo da decapitação de Sotloff. Nas imagens divulgadas neste sábado, outro refém britânico, identificado como Alan Henning, é apontado como a próxima possível vítima. “Se você, Cameron, persistir em lutar contra o Estado Islâmico, você, assim como seu mestre Obama, terá o sangue do seu povo em suas mãos”, disse no vídeo, em inglês com sotaque britânico, um militante do EI que, acredita-se, seria o mesmo que executou Foley e Sotloff. O EI ainda mantém reféns dois britânicos e dois americanos. As identidades deles são mantidas em segredo a pedido das famílias – os radicais ameaçaram matar os reféns que tenham as identidades reveladas.

Opinião pública

Para os analistas, a sucessão de vídeos grotescos de decapitações de ocidentais demonstram a raiva e a frustração do EI com a intervenção militar internacional que travou a sua expansão territorial no Iraque e na Síria e põe em causa a sua ideia de consolidação de um califado nos dois países. A capacidade bélica dos jihadistas não é proporcional à dos seus inimigos: incapazes de abater os jactos e drones norte-americanos, os militantes respondem com outras armas – o terror e a opinião pública.

Alguns analistas se questionem sobre o calendário das publicações dos vídeos, que podem não corresponder às datas exatas das decapitações. As imagens da morte dos dois jornalistas norte-americanos, James Foley e Steven Sotloff, foram divulgadas num intervalo de duas semanas, mas desta vez passaram dez dias: estará o EI a sentir-se acossado ou em desespero? Poderá a decapitação de Haines ter sido adiantada para condicionar os participantes na conferência de Paris sobre o Iraque? Poderá ter alguma coisa a ver com a realização do referendo para a independência na Escócia, esta quinta-feira?

A votação poderá ter refreado os ímpetos de David Cameron na resposta aos islamistas, de forma a não alienar os eleitores escoceses, tradicionalmente mais céticos quanto ao uso da força militar. Numa entrevista à BBC, o primeiro-ministro escocês e líder do partido nacionalista, Alex Salmond, frisou que “não é possível ceder ao terrorismo”, mas considerou que “atos bárbaros” como os do EI “exigem uma deliberação coletiva” sob os auspícios das Nações Unidas.

*Informações de Rita Siza para o Público e O Estado de S. Paulo (NYT, Reuters e AP).

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