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O maior julgamento da história do Supremo não será televisionado

Supremo se fecha após desgastes e traumas do julgamento do mensalão

(DEU NO EL PAÍS) – “Vamos fazer nosso trabalho, e não chicana, ministro”, disse o então presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa ao colega Ricardo Lewandowski na última das várias e tensas discussões que marcaram o julgamento do mensalão e que ainda parecem ecoar no Plenário da maior Corte do país. Após julgar o maior caso de sua história em 53 transmissões de televisão e internet ao vivo — o que permitiu a milhares de brasileiros aprender, entre outras coisas, que “chicana” é um artifício para atrasar julgamentos —, o STF se prepara para tratar do novo maior caso de corrupção do Brasil sem expor seus ministros ao vídeo.

Nove meses depois desse último e desgastante embate público entre Joaquim Barbosa e Ricardo Lewandowski, o STF mudou seu regimento interno para deixar de julgar políticos com foro privilegiado no Plenário — desde maio de 2014, esses julgamentos são feitos pela Segunda Turma da Corte, composta por apenas cinco dos 11 ministros do tribunal. A mudança, que é questionada formalmente pela Câmara dos Deputados (leia mais em Câmara questiona mudança, abaixo), foi feita em nome da celeridade, mas uma fonte que frequenta os bastidores do Supremo garante que a maior discrição das deliberações da Segunda Turma pesou na hora de o tribunal optar pela alteração.

Sem título-vertAs sessões da Segunda Turma são abertas e qualquer pessoa pode frequentá-las, mas essas reuniões nunca foram transmitidas em vídeo, porque ocorrem ao mesmo tempo que as reuniões da Primeira Turma, e o STF nunca quis privilegiar um dos grupos com exibições ao vivo. O advento da internet, contudo, permitiria transmissões em streaming de vídeo, mas, consultado pelo EL PAÍS, o Supremo informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que “ainda não há previsão para transmissão das sessões das Turmas do STF”. Ou seja, se nada mudar até fevereiro, quando o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, deve apresentar a denúncia contra os estimados 100 políticos investigados pela Operação Lava Jato, o maior caso de corrupção da história do país será julgado longe dos olhos da maioria da população brasileira.

A Segunda Turma do STF comporta no máximo 235 espectadores — 126 em suas poltronas fixas e 109 em cadeiras que podem ser acrescentadas, a depender da necessidade. Para além dessas dezenas de privilegiados, quem quiser ter acesso direto a detalhes do julgamento de políticos pela Corte Suprema terá de ficar atento às imagens que as emissoras de tevê podem coletar durante 10 minutos em cada reunião das Turmas ou solicitar cópias da íntegra das sessões em áudio e vídeo à Secretaria de Comunicação Social do STF. Em vias do julgamento do maior caso de corrupção da história do país, a mudança divide o mundo jurídico.

Para Wadih Damous, presidente da Comissão Nacional de Direitos Humanos do Conselho Federal da OAB e um dos maiores críticos da forma de condução do julgamento do mensalão, o STF acerta ao optar pela discrição. “Acho a medida correta, julgamento não é espetáculo. Quando há elementos externos de pressão, em que só pode haver um resultado possível, que é a condenação, saímos do estado de direito e entramos no autoritarismo”, defende o jurista. O advogado Gustavo Badaró, que defendeu Silvio Pereira no julgamento do mensalão, também vê benefícios na alteração, pois sem televisão “os ânimos não estarão tão acirrados” e “não haverá votos tão longos ou citações e demonstrações de erudição que em nada acrescentam ao julgamento da matéria”.

Apesar de concordar que as transmissões ao vivo podem influir nos julgamentos, o professor de Direito Penal da FGV Thiago Bottino acredita que a exposição das sessões contribui para a transparência do Judiciário e para a educação da população brasileira. “Os prós são superiores aos contras. Não televisionar vai trazer algumas perdas, como a impossibilidade de controlar o Judiciário. Do ponto de vista do acusado absolvido, também seria importante exibir o resultado”, diz Bottino, que menciona os ganhos alcançados com a transmissão de julgamentos de grande repercussão como os de ações afirmativas e de pesquisa com células-tronco (esses casos de repercussão geral seguem sendo julgados pelo Plenário do STF).

Também professor da FGV, o especialista em Direito Constitucional Joaquim Falcão é ainda mais contundente em sua defesa da transparência nos julgamentos. “No caso do mensalão, o Supremo se impôs, com legitimidade. O Supremo ganhou com o mensalão. Não justifica se fechar. Temos pesquisas que mostram que, quando se falava em Justiça, antes desse julgamento, o que vinha na cabeça do cidadão eram crimes e prisão. Agora, quando se fala em Justiça, as pessoas relacionam ao Supremo. Isso foi um conquista”, argumenta o professor, segundo quem o Brasil divide com a Inglaterra e o México o pioneirismo nas transmissões de julgamentos — um tema que também começa a ganhar força nos Estados Unidos. “O caminho é o da transparência, e não o da proibição de veiculação”, defende Falcão.

*Texto de Rodolfo Borges para o El País (Edição Brasil)

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Correspondente do ‘Washington Post’ será julgado no Irã

Sem dar detalhes sobre as acusações, o procurador geral de Teerã, Abbas Jafari-Dolatabadi, anunciou que o caso do correspondente do jornal “Washington Post”, Jason Rezaian, foi enviado ao Tribunal Revolucionário, que lida principalmente com casos que envolvem crimes contra a segurança. “Após o final da investigação, a ata de acusação foi redigida e o caso de Jason Rezaian foi encaminhado”, declarou à agencia Fars. Ele também acrescentou que a mãe do jornalista detido há quase seis meses, que está no Irã, encontrou seu filho em duas ocasiões, no final de dezembro.

Rezaian (38), que é iraniano-americano, trabalhava em Teerã desde 2012. Ele foi preso em 22 de julho passado com sua esposa, Yeganeh Salehi (30), colaboradora do jornal dos Emirados Árabes The National, e outro casal de jornalistas que foi liberado em seguida. As forças de segurança foram até a casa dos jornalistas e confiscaram seus bens pessoas, incluindo computadores, livros e notas. Conforme declarações de um funcionário do Judiciário do Irã, em meados de agosto passado, eles foram presos como parte de questões ligadas à segurança da república islâmica. Ainda em agosto, um jornal conservador mencionou acusações de espionagem. No entanto, as acusações específicas não foram divulgados na época, nem foram listadas nos meios de comunicação do Estado.

Leia também: Irã liberta jornalista presa desde julho

Libertada em outubro de 2014 sob fiança, Salehi não pode mais trabalhar como jornalista no Irã. Já a detenção do correspondente foi prolongada em 60 dias no dia 4 de dezembro, segundo sua família. Em dezembro, Rezaian foi levado perante um juiz na capital iraniana para ouvir acusações oficialmente levantadas contra ele e foi negado um pedido de fiança. Os Estados Unidos pediram em diversas ocasiões a libertação de Rezaian, mas o Irã não reconhece a dupla nacionalidade, e por isso rejeitou os apelos do Departamento de Estado americano.

“Nós ainda não sabemos o que as autoridades iranianas têm a alegar contra nosso correspondente Jason Rezaian, mas esperamos que o encaminhamento de seu caso a um Tribunal Revolucionário represente um passo em direção à libertação imediata de Jason”, disse em um comunicado Martin Baron, editor-executivo do Washington Post.

O ministro iraniano das Relações Exteriores, Mohammad Javad Zarif, declarou nesta quarta-feira que “o governo iraniano está fazendo o seu melhor para ajudar”, mas que se trata “de um assunto judicial”. Zarif fez estas declarações em Genebra, onde encontrará o secretário de Estado americano, John Kerry, como parte das negociações nucleares entre o Irã e as potências do grupo 5+1 (Estados Unidos, França, Reino Unido, Rússia, China e Alemanha).

*Informações da AFP e BBC.

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