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Cerimônia formaliza doação do acervo de Walter da Silveira à ABI

A Associação Bahiana de Imprensa (ABI) vai receber a família de Walter da Silveira para o ato de doação do seu acervo pessoal à instituição, na próxima quarta-feira 16, às 15h, na Biblioteca de Comunicação Jorge Calmon, na sede da entidade. A ABI foi escolhida para cuidar do acervo reunido pelo crítico e estudioso de cinema que completaria 100 anos em 2015. O evento reunirá gestores da área cultural do Governo da Bahia e da Prefeitura de Salvador e representantes das entidades que reúnem produtores de cinema e vídeo, além de pesquisadores e aficionados pela sétima arte.

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Álbuns de recortes e originais das obras publicadas pelo crítico estão entre as raridades do acervo – Foto: ABI

Uma exposição trará algumas das raras obras reunidas por Walter, entre as quais estão centenas de livros, coleções de revistas especializadas, discos de vinil, fotografias, além de registros com Jorge Amado, livros autografados por Vinicius de Moraes e correspondências trocadas com Carlos Drummond de Andrade. A equipe da Biblioteca de Comunicação Jorge Calmon, da ABI, já iniciou o trabalho de restauração das obras, que em breve serão disponibilizadas para estudantes, pesquisadores e para o público em geral.

Leia também: o artigo “Cinema, preleção e debate

A biblioteca que Walter da Silveira deixou ocupava o escritório anexo ao apartamento em que ele vivia, no bairro da Graça, e havia sido transferida para a sede da ABI, na Praça da Sé. Essa recente doação feita à ABI recompõe quase totalmente a biblioteca pessoal de Silveira, somando à parte do acervo adquirida há anos pela instituição, composto por obras que já estavam disponíveis na Biblioteca Jorge Calmon.

A filha do crítico, Kátia da Silveira, resistia à ideia de transferir o escritório para um sítio da família, no interior, mas não via alternativas. A cineasta Márcia Nunes, amiga da família, conheceu a ABI na inauguração da Sala Roberto Pires – espaço dedicado ao audiovisual – e apresentou Kátia à instituição, viabilizando a doação. “A ABI recebeu com muito carinho o acervo do meu pai, que sempre utilizou as palavras ‘eterno’ e ‘efêmero’. Minha intenção é eternizar a memória dele. Estou entregando com toda a confiança porque acredito que na ABI todas as obras estarão em boas mãos”, afirmou Kátia.

 SERVIÇO:

O que: Cerimônia de doação acervo Walter da Silveira

Onde: Biblioteca de Comunicação Jorge Calmon, na Associação Bahiana de Imprensa (Rua Guedes de Brito, 1 – Praça da Sé)

Quando: 16 de setembro, às 15h

Informações: 3322-6903 / [email protected]

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Em pauta

Cinema, preleção e debate

[Aloísio da Franca Rocha Filho*]

A Bahia dos anos 60 era uma cidade província em busca de uma metrópole capital. Fazia esforço para esse avatar mas  o subdesenvolvimento freava uma modernidade mesmo que tardia.

Ninguém melhor narrou por imagens paradas – a fotografia- a vida  da cidade que aliás era de uma gostosura e de uma placidez  às vezes irritante senão Pierre Verger, um estrangeiro, não aquele que vem hoje e amanhã se vai, mas aquele que vem hoje e amanhã permanece.

“Quando você é a câmera e a câmera é você” como Verger fotografar na sua Rolleiflex esse mundo da comida, da dança, do canto, da proxêmica, das festas populares, do trabalho braçal, do corpo, do traje, dos lugares, dos candomblés, do porto, dos saveiros, etc. dessa Bahia foi um ato de ternura antropológico onde nada, absolutamente nada  escapou do seu clic,  embora  muitas vezes escapasse aos  olhos cotidianos dos baianos  que viam mas pareciam não lhes enxergar.

Da imagem parada para a imagem em movimento: o cinema. Contemporâneo a esse registro do mundo da cultura popular da Bahia emerge o cinema baiano signo dessa modernidade mas com um certo receio de mergulhar na  cultura  do povo, na sua identidade pois somente  olhando para si e para os seus o cinema poderia requerer o olhar dos cinéfilos e aderentes.

Walter da Silveira inaugura desde 1950 com o Clube de Cinema da Bahia um “roteiro cinematográfico” por assim dizer fora do circuito massivo dos filmes americanos tipo B e C, que dominavam o mercado distribuidor em pleno período da guerra fria e no inicio da ditadura militar. Era um projeto político cultural para  debater as inter relações do cinema nacional emergente  no contexto de um pais subdesenvolvido e  capitalista frente a agressiva ofensiva do  “monopólio absoluto de Hollywood” ,na época, uma espécie de colonialismo cultural nos trópicos a disseminar o “american way of life” sem qualquer contraposição fílmica nacional. Prestigiar o cinema nacional na linha de filmes que revelassem critério crítico, estético e político da nossa cultura era o projeto de Walter da Silveira daí o seu vivo interesse na filmografia de Roberto Pires diretor de “A Grande Feira” para ele um criador e diretor de “um cinema absolutamente contemporâneo”. Com pertinência ele indagava: “por que nós no Brasil, não nos insurgimos contra a nossa condição de colonos cinematográficos dos Estados  Unidos?” Então e depois Roberto Pires, Glauber Rocha e tantos outros souberam  com talento responder essa indagação.

Na seqüência do Clube e inspirado por Walter nasce o Cinema de Arte da Bahia logo  um marco cultural na cidade.  Sem ainda contraponto nacional cinematográfico expressivo à hegemonia de Hollywood  Walter da Silveira vai buscar este contraponto nas experiências fílmicas da Europa.

E aqui me vem a boa recordação dos primeiros filmes e sessões do Cinema de Arte da Bahia no Cine Guarany.  O Guarany, muitos lembram, criou um diferencial para o  início das suas sessões.  Ao som da ópera “O Guarany”, de Carlos Gomes, as luzes lentamente se apagavam até o  jornal.  Um troço elegante, bacana mesmo, próprio do auge e da distinção da era do cinema. Na entrada da sessão recebíamos uma espécie de “folder” com a ficha técnica, o elenco, a sinopse e foto de passagem do filme. Na sala de espera rolavam papos sobre a programação do Cinema de Arte, o “mundo” cultural e diversificado da Bahia que vivia uma efervescência, tudo temperado pelas línguas bem  humoradas de  um seleto público de escritores, professores,  artistas plásticos, atores e diretores de filmes e de teatro, jornalistas, profissionais liberais e estudantes.

Além de crítico de cinema Walter da Silveira era um bem sucedido advogado trabalhista. Antes da exibição não dispensava uma breve preleção voz grave e pausada mais ou menos assim: “meus amigos, vamos assistir hoje a uma obra prima do cinema…  O filme é do diretor …, inova na linguagem, na fotografia, no diálogo… e merece a nossa atenção para  percebermos essas inovações e apreciá-lo  Vamos assisti-lo em silêncio e com educação.” Após a sessão seguiam-se sempre provocativos debates.

Toda uma geração da Bahia deve a Walter da Silveira essa guinada  para conhecer e prestigiar não só  o cinema nacional, mas a  “nouvelle vague”francesa,  o neo-realismo italiano, o cinema espanhol, o sueco, o alemão, o russo, o tcheco, o japonês. Godard, Truffaut, Resnais, Pasolini, De Sica, Fellini, Visconti, Buñuel, Bergman, Eisenstein, Kurosawa todos  na magistral   programação “Sete Semanas de Filmes Estrangeiros” 49 primorosos filmes exibidos. Lembram?

Onde estiver, obrigado Walter da Silveira!

*Aloisio da Franca Rocha Filho – Jornalista. E-mail: <[email protected]>.  Artigo originalmente publicado na Tribuna da Bahia, no dia 14 de setembro, pág. 11 – Cidade

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ABI BAHIANA Notícias

OAB-BA anuncia vencedores do Prêmio de Jornalismo Barbosa Lima Sobrinho nesta sexta (18)

A seção estadual da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-BA) vai anunciar nesta sexta-feira (18) os vencedores do prêmio OAB de Jornalismo Barbosa Lima Sobrinho. O evento, que conta com o apoio e assessoria da Associação Bahiana de Imprensa (ABI) e do Sindicato dos Jornalistas da Bahia (Sinjorba) acontece no auditório da Ordem, na Piedade (Centro). Os jornalistas escolhidos para 1º e 2º lugar nas categorias impresso (texto e fotojornalismo), rádio e webjornalismo receberão diploma, medalha comemorativa do evento e, respectivamente, um cheque no valor de R$ 5 mil e um cheque no valor de R$ 3 mil. O primeiro prêmio para a categoria impresso texto receberá ainda uma placa comemorativa ao centenário do jornalista Jorge Calmon.

Leia também: OAB-Bahia lança prêmio de jornalismo Barbosa Lima Sobrinho

Criado em homenagem ao advogado, jornalista e escritor Barbosa Lima Sobrinho e reativado pela Resolução Nº 001/2015 do Conselho Pleno da OAB da Bahia, o Prêmio OAB de Jornalismo Barbosa Lima Sobrinho premiará os melhores trabalhos produzidos sobre o tema “Justiça e Direitos Fundamentais”, no período de 1º de janeiro a 31 de dezembro de 2014. O presidente da OAB da Bahia, Luiz Viana Queiroz, destacou que se trata de “um prêmio para celebrar a imprensa livre da Bahia, que é fundamental para a promoção da justiça e para a defesa dos direitos fundamentais no nosso estado”.

BARBOSA LIMA SOBRINHO

Alexandre José Barbosa Lima Sobrinho foi um advogado, jornalista e político que nasceu no Recife, em 22 de janeiro de 1897. Formou-se em direito na Faculdade do Recife em 1917, tendo trabalhado como promotor. Mudou-se para o Rio de Janeiro quatro anos mais tarde e tornou-se redator do Jornal do Brasil, onde fez carreira. Um dos principais opositores do Regime Militar de 1964, candidata-se à Vice-Presidência da República em 1973 pelo MDB. Em 1992 torna-se um dos líderes civis do movimento que resulta no impeachment do presidente Fernando Collor. Em 1997 lança a Antologia de Barbosa Lima Sobrinho, Cem Anos de Vida Lutando pelo Brasil, obra que reúne trechos de seus artigos, livros, conferências e discursos. Ocupou várias vezes a presidência da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) no decorrer dos anos 70 e 80, sendo ainda membro da Academia Brasileira de Letras e Instituto dos Advogados Brasileiros e Instituto dos Advogados de São Paulo. Faleceu no Rio de Janeiro, em 16 de julho de 2000, aos 103 anos de idade.

*Com informações da OAB-Bahia e do Sinjorba.

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