História da ABI

Edifício Ranulfo Oliveira, sede da ABI, na esquina da Rua Guedes de Brito com a Rua José Gonçalves – Foto: Arquivo

O dia 17 de agosto é um marco de dignidade e cidadania na imprensa baiana. Há 93 anos, nos salões da Associação Tipográfica Baiana, 73 jornalistas instalaram, em Salvador, a Associação Bahiana de Imprensa (ABI), cuja trajetória está incorporada na história da Bahia. Os fatos mais relevantes ocorridos em nosso Estado, de alguma forma, passaram pela entidade, que acompanha permanentemente as transformações sociais, políticas e econômicas da Bahia e do País.

No ano do seu nascimento, em 1930, os sonhos iniciais – entre outros, a sede – foram adiados, diante de um fato político que perturbaria a vida dos brasileiros, “a Revolução de 30”, com a decretação do estado de sítio e severas restrições à ordem pública e às liberdades individuais. A ABI surge exatamente para defender a liberdade de expressão e zelar pelo respeito às leis estabelecidas.

A sede própria, apesar do estado de sítio, era o principal objetivo do presidente, Altamirando Requião. Mas, por influência da chamada “Revolução de 30” seguida da ditadura de Getúlio Vargas, de 1937 a 1945, e da II Guerra Mundial, de 1939 a 1945, ela só seria inaugurada em 2 de fevereiro de 1960, período de calmaria que, aliás, duraria pouco tempo, pois quatro anos depois surgiria o regime militar, que duraria até 1985.

Naqueles 50 anos – 1930 a 1980 – muitos foram as lutas da ABI, além da grande campanha da construção da sede. Uma delas, certamente a mais árdua, a defesa da liberdade de expressão, principalmente pelos curtos períodos de tranquilidade política vividos pelo País. Na Bahia, em 1930, assumia o governo do Estado o tenente (integrante do “tenentismo”) Juracy Montenegro Magalhães, um dos interventores que durante seu comando, ocorreriam períodos duros com prisões de toda ordem, de jornalistas a políticos.

Tantas foram as medidas de exceção e tamanho os atos de violência que, em 1932, o major Juarez Távora, um dos líderes da Revolução Constitucionalista de 30, enviaria uma correspondência ao presidente da ABI, Ranulpho Oliveira, na qual pedia a sua opinião sobre “se julga o atual interventor – Juracy Magalhães – estar se desincumbindo satisfatoriamente da missão administrativa e se a Bahia teria mais a lucrar com a volta do País ao regime constitucionalista

Essa luta incessante da ABI seria mais expressiva nos “anos de chumbo” do regime militar iniciado em março de 1964 e extinto em 1985. Uma vasta e contundente literatura mostrou que, nesses 11 anos, centenas de jornalistas e cidadãos foram agredidos, presos e encarcerados, exterminados, ou desapareceram, escrevendo uma das páginas mais sombrias da História do Brasil, com os jornais ocupados por censores oficiais.

Lamentavelmente, mesmo depois que se retomou o caminho democrático, em 1985, a liberdade de expressão continua sendo ameaçada em nosso País, com censuras, agressões e até homicídios, e com o risco de virmos a ter uma nova Lei, em tramitação no Congresso Nacional, já conhecida como “Lei da Mordaça”, que cria obstáculos à liberdade de informação.

 

Essa luta de 93 anos, portanto, não está esquecida, nem recolhida aos arquivos. Está viva, cada vez mais intensa, como símbolo de vigília, como uma bandeira que os jornalistas desfraldaram para nos igualar às grandes nações mundiais.

Foto: Fábio Marconi
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