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Jornalista é acusada de incitar violência ao apoiar ação de justiceiros no Rio

Acusado de furto, um adolescente de 15 anos foi espancando, despido e, posteriormente, preso a um poste pelo pescoço com uma tranca de bicicleta, no bairro de classe média Flamengo, na zona sul da capital, no último dia 31. A vítima sofreu também um corte com faca na orelha. A apresentadora do SBT Rachel Sheherazade é acusada de incitar a violência e de cometer ato racista, por manifestar apoio ao ato contra o menor infrator. Após considerar “até compreensível” a ação dos justiceiros, a jornalista foi duramente criticada em nota do Sindicato dos Jornalistas do Rio de Janeiro, que acusou a âncora de violar os direitos humanos e o Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros.

O rapaz foi castigado em uma cena chocante que remonta à escravidão no Brasil, quando negros eram amarrados e açoitados nos troncos/ Foto: Yvonne de Melo (Facebook)

No noticiário do SBT, Rachel disse que “que o Estado é omisso, a polícia é desmoralizada e que a justiça é falha”. “O contra-ataque aos bandidos é o que chamo de legítima defesa coletiva de uma sociedade sem Estado contra um estado de violência sem limite”, afirmou. Além disso, a jornalista criticou os defensores dos direitos humanos e pediu para que “façam um favor ao Brasil e adotem um bandido.”

A “Nota de repúdio do Sindicato e da Comissão de Ética da entidade contra o posicionamento de Rachel Sheherazade”, divulgada no último dia 5 (quarta), requer um posicionamento firme por parte da Federação Nacional dos Jornalistas Brasileiros contra a apresentadora. Ainda segundo os jornalistas cariocas, “canais de rádio e TV não são propriedade privada, mas concessões públicas”. As declarações da âncora do jornal do SBT também violaram os direitos humanos, o Estatuto da Criança e do Adolescente e fez apologia à violência quando afirmou achar que “num país que sofre de violência endêmica, a atitude dos vingadores [de punir com as próprias mãos o adolescente acusado de furto] é até compreensível”. A entidade está organizando um debate, com o objetivo de refletir sobre o papel do jornalista como defensor dos direitos humanos e da democratização da comunicação.

O vídeo causou muita repercussão nas redes sociais e dividiu opiniões. Diversos internautas se posicionaram contra o comentário da apresentadora, que usou o Twitter para tentar se defender da repercussão negativa. Rachel criticou o “politicamente correto” e o jornalismo “chapa branca”. “Gente boa, valeu pelo debate. Obrigada a vocês que não distorceram de forma desonesta minhas palavras e captaram a mensagem! Abaixo a censura!”.

No SBT Brasil de ontem (6), a âncora tentou explicar seu comentário e afirmou que apenas defendeu o direito da população e que não vai se calar. “Sou do lado do bem. Jamais defenderia a violência. O que fiz não foi defender a atitude dos justiceiros. Defendi o direito do cidadão de se defender. Não se pode confundir o direito de se defender com a barbárie, a violência pela violência”, afirmou Sheherazade.

Rachel Sheherazade disse que defende a população e que não vai se calar/ Foto: Reproduçao

O site RD1 Notícias consultou a assessoria de imprensa do SBT, que explicou a sua posição. “A opinião dada no telejornal é de total responsabilidade da jornalista e comentarista do ‘SBT Brasil’, Rachel Sheherazade. Como acontece em outros veículos de comunicação, a emissora respeita a liberdade de expressão de seus comentaristas, porém ressalta que a opinião é da mesma e não do SBT.” Entidades e representações políticas repudiaram o que classificaram como “apologia à tortura” e cogitam acionar o Ministério Público com uma representação contra o canal e a jornalista por incitação ao crime.

Com informações de Matheus Pichonelli/Carta Capital, site RD1

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