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Salvador entre protestos pacíficos e confrontos com a Polícia

O protesto teve um pouco de tudo. Gente de cara limpa, jovens, estudantes, trabalhadores e gente que preferiu esconder o rosto. Foi o brado dos baianos contra a corrupção e os desmandos que ocorrem no país. Não havia uma pauta definida, mas muita indignação. Os primeiros passos do movimento foram dados no Campo Grande. Alguns manifestantes apareceram mascarados e chegaram a queimar uma bandeira. A passeata seguiu pacificamente até o Rosário, na avenida Sete.Na praça da Piedade, alguns funcionários da Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP) foram aconselhados a não deixar o prédio até que o grupo passasse. Havia o receio de que pudessem ser alvo de algum tipo de agressão.

Da Piedade, o primeiro grupo seguiu em direção a Arena Fonte Nova. Mas enquanto o maior aglomerado seguia nessa direção, um segundo grupo chegava à região do Dique do Tororó, fechando completamente a via. Impasse criado, troca de insultos, ânimos exacerbados e surgiram as primeiras bombas de gás e spray de pimenta, lançados indiscriminadamente. Era o confronto que não se pretendia, mas se tornou inevitável. Os manifestantes queriam chegar à Fonte Nova e a PM tinha ordens de impedir a qualquer custo.

Daí em diante, os confrontos foram ganhando corpo entre manifestantes e policiais militares por toda zona central da cidade. Sem armas, mas já com o sentimento bélico aflorando, os manifestantes passaram a se valer de pedras portuguesas arrancadas do calçamento para tentar furar o bloqueio feito pelos PMs no entorno da Arena Fonte Nova. Um dos principais confrontos aconteceu na Avenida Joana Angélica, no bairro de Nazaré. A polícia reagiu disparando balas de borracha. Um ponto de ônibus foi quebrado em frente ao Colégio Central. Um policial foi ferido no rosto, sendo socorrido pelos companheiros. Com a fúria incontida, até um carro de passeio acabou apedrejado.

Com o começo da noite, o clima de confronto foi se tornando intenso, avançando por bairros periféricos, chegando até o começo da avenida Centenário, via de acesso a bairros nobres da cidade. A área virou uma praça de guerra, com lixo espalhado, banheiros químicos destruídos e jogados pela pista, nascendo os primeiros focos de incêndio.

Para dar maior impacto à manifestação, um ato que destoava com o propósito do protesto: um ônibus foi incendiado nas imediações do Instituto Médico Legal. Uma imagem que correu o Brasil, contrariando a todos que pregavam um protesto feito com paz.

Com grupos infiltrados, a tocar terror, um ponto de ônibus foi depredado ao lado da sede da Polícia Civil, na Piedade. Por volta das 18 horas, com vários focos de conflito espalhados, a Polícia Militar esclareceu, em nota, o uso do gás contra os manifestantes: “A Polícia Militar da Bahia esclarece que a utilização de granadas fumígenas com agente químico CS (gás lacrimogêneo), por integrantes da Corporação, atendeu a necessidade de garantir a proteção das pessoas e do patrimônio público e privado. A PM ratifica que as ações desenvolvidas estão em consonância com os padrões técnicos e legais do uso progressivo da força”.

Com a resistência da PM, impedindo que os manifestantes acessassem a Fonte Nova, usando para isso, inclusive, a cavalaria, o movimento estabeleceu um recuo tático, se espalhando por toda a área, mas sem fugir ao caráter ordeiro a que se propunha. Mas pequenos grupelhos seguiam protestando de uma forma não prevista, forçando portas e até arrombando lojas na avenida Sete.

No rastro de destruição deixado por alguns vândalos infiltrados no movimento, um carro de passeio foi incendiado nas imediações da Estação da Lapa. A PM emitiu, por volta das 19 horas, uma nota de repúdio aos atos registrados na cidade: “A Polícia Militar da Bahia repudia os atos de vandalismo de um grupo de manifestantes contra prédios e veículos públicos. No final da tarde desta quinta-feira (20), um grupo de pessoas, após atear fogo num ônibus, dificultou o trabalho do Corpo de Bombeiros, apedrejando os bombeiros e seus veículos”.

Minutos antes, carros da polícia foram depredados em frente ao Complexo da Polícia Civil dos Barris. E por fim, já quase às 20 horas, dois micro-ônibus da Fifa foram apedrejados no final da avenida Sete, logo após o Palácio da Aclamação, em frente ao Sheraton Hotel da Bahia, no Campo Grande.

Fonte: Tribuna da Bahia

 

 

 

 

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