Imprensa e História

“Trump e a imprensa – Tony Pacheco

Por Tony Pacheco*

O tema deste encontro é “Os seis meses do Governo Trump e a imprensa”**, por isso, peço licença aos presentes para abrir esta pequena fala com a conclusão de nossa coluna “GiraMundo” de 23 de agosto do ano passado, três meses antes da eleição de Trump. A coluna foi ao ar na CBN, a então rádio de notícias do Sistema Globo aqui em Salvador. Esta coluna talvez possa ainda ser conferida no podcast da rádio. Nós dissemos: “Donald Trump está empolgando a maioria branca que nunca vai às urnas. Se ele não mudar o discurso, terá uma vitória histórica. Gostemos ou não.”

E aí é que está a questão: a imprensa no caso de Trump, nos EUA e praticamente no mundo todo, resolveu TOMAR PARTIDO da candidata democrata, Hillary Clinton, esquecendo (entre aspas) que ela tinha uma rejeição enorme no eleitorado americano. Esquecendo, também, que metade dos americanos não vota, pois não é obrigatório. A maioria branca aproveita o dia da eleição para ir pescar, viajar, fazer churrasco com os amigos. Os brancos são maioria esmagadora, 200 milhões, e a imprensa esqueceu isso. E eles, brancos, mesmo tendo ficado extremamente mais pobres nos últimos 20 anos, foram TOTALMENTE ESQUECIDOS PELOS CANDIDATOS DEMOCRATAS E REPUBLICANOS NAS ÚLTIMAS ELEIÇÕES.

Os candidatos só se lembram dos cerca de 55 milhões de latinos e cerca de 45 milhões de negros, que são muito perseguidos MESMO, só que são minorias e como têm tudo a perder, vão em massa às urnas nos EUA.

Quando toda a mídia mundial dava como certa a eleição de Hillary Clinton, venceu aquele que por quase dois anos era chamado pela imprensa de “ignorante”, “fascista”, “retrógrado”, “racista”, “capitalista desalmado”. E alguém aí poderá dizer: “ah, agora é fácil teorizar sobre isso, a eleição já passou”.

Nós podemos teorizar sobre isso, porque fizemos a coluna “GiraMundo” da rádio CBN por quatro anos e no ano passado, três meses antes das eleições, dissemos várias vezes que Trump iria derrotar a candidata do Partido Democrata porque ele falava à maioria dos americanos que está vivendo o segundo pior empobrecimento de sua história, depois da Grande Depressão.

Leia também: Jornalistas analisam efeitos do governo Trump sobre a imprensa

E aqui queremos dizer: esqueçam a classe média americana que a imprensa, o cinema e a internet sempre mostraram. Há quase 20 anos que a classe média americana vem caindo. Se até meados dos anos 1990, esta classe média foi a campeã de bem-estar no mundo, hoje está atrás da maioria dos países da Europa Ocidental e atrás do Canadá, Japão e Coréia.

Segundo uma matéria do “The New York Times”, nestes primeiros anos do século XXI, 70% dos americanos não estavam felizes com suas vidas.

É AÍ QUE TRUMP ENTROU. ELE FALOU PARA ESTES 70% DE BRANCOS DESCONTENTES QUE NUNCA VOTAM, MAS QUE AGORA, COM O APERTO DA POBREZA ACENANDO PARA ELES, RESOLVERAM PARTICIPAR DO PROCESSO ELEITORAL. Aqui no Brasil, segundo investigamos, a imprensa ignorou o fator branco pobre: só nós na rádio CBN e Ricardo Amorim, no programa “Manhattan Connection”, da Globo News, sacaram isso. A MAIOR PARTE DA IMPRENSA BRASILEIRA E MUNDIAL FEZ COBERTURA PARTIDÁRIA ANTI-TRUMP NA ELEIÇÃO COMO CONTINUA FAZENDO AGORA.

A imprensa brasileira continuou difundindo a fantasia da “América grande” que já não existe mais. Os brancos americanos medianos estão lutando para sobreviver. Eles não têm curso universitário ou fizeram faculdade pública ou faculdade particular medíocre como as brasileiras.

Só 1% dos americanos, menos de 4 milhões de pessoas, têm renda superior a 600 mil reais por ano. Outros 15%, mais ou menos uns 50 milhões, têm renda entre 90 e 400 mil reais por ano.

A maioria, uns 200 milhões de americanos, fica patinando, correndo atrás de empregos melhores E OS EMPREGOS FUGIRAM para países como China, Indonésia, Brasil, Índia, Viet Nam, México. A maioria dos americanos nos últimos 20 anos está mergulhada em impagáveis hipotecas e outras dívidas.

VAMOS MOSTRAR AQUI APENAS TRÊS PONTOS QUE FIZERAM A VITÓRIA DE TRUMP E VÃO IMPEDIR SEU IMPEACHMENT:

1º) a casa própria virou um pesadelo nos EUA. Em Nova York 64% da população é de inquilinos. Em Miami, de cada 10 imóveis familiares, 7 pagam aluguel e apenas 3 são casas próprias. E isto se repete em todas as cidades americanas depois da explosão da bomba imobiliária de 2008. A coisa tá tão feia no setor da casa própria para a classe média branca dos EUA, que entre 2011 e 2015, brasileiros – ACREDITEM, BRASILEIROS! – compraram 2.100 imóveis em Miami e os americanos, muito pouco. Continuam na hipoteca. Isto não é um “case” de insucesso de uma classe média, é um “case” de fracasso dos governos anteriores a Trump;
2º) na área educacional, o cidadão de classe média americano gasta pelo menos 240 mil reais para se formar numa universidade pública ou numa fábrica de diplomas como as nossas. Isto leva a dívida dos jovens americanos com o sistema educacional a 1,5 trilhão de dólares, isto é, o Produto Interno Bruto do Brasil;
3º) Outro indicativo da pobreza dos brancos da classe média americana que a imprensa brasileira se recusou a pesquisar durante a campanha de Hillary contra Trump é o AUTOMÓVEL. O CARRO sempre foi um farol para a inveja do mundo inteiro sobre o estilo de vida superior dos americanos, vide os filmes que chegam até nós: vemos a mocinha chegar ao trabalho na lanchonete numa van luxuosa da Chrysler; ou o mocinho universitário indo às aulas com um Mustang zero. Nada mais falso. A idade média dos carros que rodam nos EUA, atualmente, é de 12 anos. Eu disse, 12 anos… O americano médio não pode mais trocar de carro como é mostrado no cinema. Só para comparar, o nosso pobre Brasil, de pessoas lenhadas e desempregadas, tem carros com idade média de 7 anos de uso apenas. Ou seja, o brasileiro já está posando de classe média mais rica do que a americana.

E ISSO A IMPRENSA BRASILEIRA E INTERNACIONAL NÃO VIU. NÃO VIU QUE TRUMP EXPLOROU EXATAMENTE ISSO EM SUA CAMPANHA. O lema da campanha de Trump foi “MAKE AMERICA GREAT AGAIN”.
Ou seja, “vamos fazer os EUA serem grandes como já foram um dia”. QUÊ AMERICANO BRANCO, VIVENDO A AMEAÇA DA POBREZA, IA RESISTIR A ESTE CHAMADO?

Donald Trump prometeu que ia governar e já está governando nestes primeiros seis meses, para esta maioria BRANCA que vive endividada, pagando aluguel e administrando carros velhos sem poder colocar os filhos numa faculdade decente…

Não há movimento de imprensa, intelectuais ou artistas que tire Trump do poder. SÓ SE ELE CEDER E MUDAR O DISCURSO, mas pela arrogância que ele continua mantendo firme e forte, e pela loucura desenfreada dos desesperados brancos mais pobres, ELE NÃO SERÁ DERRUBADO.

A IMPRENSA ESTÁ FAZENDO COBERTURA PARTIDÁRIA, DE NOVO, NOS EUA E NO RESTO DO MUNDO, INCLUSIVE AQUI NO BRASIL. TODOS PEDINDO O IMPEACHMENT DE TRUMP. Apontam que ele foi ajudado por Putin, o maluco oficial da Rússia, e esquecem que até um poste seria eleito contra Hillary se fizesse o discurso de Trump: FAZER OS AMERICANOS RICOS DE NOVO.

Só quem vai impedir Trump de se reeleger daqui a 3 anos é o próprio Trump, se deixar seu discurso e suas atitudes de lado e começar a rezar na cartilha dos liberais. Se continuar sendo o doido típico DOS BRANCOS da classe média baixa, não só se reelege como ainda faz o sucessor em 2024. E POSSO ESTAR TAMBÉM TOTALMENTE ENGANADO.

Foto: Luiz Hermano Abbehusen

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*O jornalista Antonio Carlos Pacheco (Tony Pacheco) escreve também para o blog “Os Inimigos do Rei“, espaço inspirado no jornal baiano anarquista “O Inimigo do Rei“, criado em 1977 em meio a ditadura militar.

**Esta análise foi apresentada durante o debate “Os seis meses do Governo Trump e a imprensa”, realizado pela Associação Bahiana de Imprensa (ABI), no dia 20 de julho de 2017. Confira matéria sobre o encontro aqui.

Nossas colunas contam com diferentes autores e colaboradores. As opiniões expostas nos textos não necessariamente refletem o posicionamento da Associação Bahiana de Imprensa (ABI).
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ABI BAHIANA

Médicos Sem Fronteiras: Ajuda humanitária é tema de seminário de jornalismo na ABI

A Associação Bahiana de Imprensa (ABI) sediou neste sábado (27), um seminário de jornalismo promovido pela organização Médicos Sem Fronteiras (MSF – Brasil). O evento, que aconteceu no auditório Samuel Celestino, teve como tema “Ajuda humanitária em pauta: como cobrir conflitos armados, desastres naturais e epidemias”, e reuniu dezenas de profissionais e estudantes de comunicação.

O seminário de jornalismo faz parte do Conexões MSF, evento que reúne conversas, exposições, filmes, dança, intervenções artísticas e seminários para que a população possa se conectar com o trabalho humanitário que a organização internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) realiza em cerca de 70 países. A diversidade de atividades, todas gratuitas, espalhadas por 15 locais da cidade de Salvador pelo período de nove dias, visa atrair pessoas com os mais diversos interesses, para que voltem seus olhares ao universo da ajuda humanitária e sintam-se verdadeiramente conectadas a ele e às realidades que o compõem.

Debates

Na primeira parte do seminário, a diretora de Comunicação de MSF-Brasil, Ana Lemos, debateu o trabalho do MSF pelo mundo. Na sequência, a coordenadora de Relações com a Imprensa da MSF – Brasil, Claudia Antunes, falou das fontes para a cobertura de crises humanitárias, como funciona a relação com a imprensa e de que forma os comunicadores podem apoiar as coberturas.

Na segunda parte do seminário o porta-voz do Alto Comissariado das nações Unidas para Refugiados (Acnur), Miguel Pachioni debateu o trabalho da instituição que ele representa.  Os bastidores da cobertura de crise humanitária na Jordânia ficou a cargo da jornalista Nathalia Tavolieri.

Claudia Antunes destacou a importância de debater as ações da organização com os profissionais da imprensa baiana. “Um dos objetivos da MSF é dar visibilidade a crise humanitária. Existem pessoas desatendidas de tudo, de saúde, de alimentação, e a gente sempre faz no Conexões um evento pra jornalistas e estudantes de comunicação para informar a esses profissionais sobre o que é Médicos Sem Fronteiras, como a gente atua, que tipo de informação a gente tem pra dar pro jornalista, e como ele pode conseguir essas informações”.

Ainda de acordo com Claudia, o evento também teve como objetivo colocar a organização à disposição desses profissionais de comunicação. “O MSF também tem a finalidade de ser um serviço para os jornalistas, que tipo de informação a gente tem pra dar pra um jornalista que está cobrindo uma crise de refugiados, uma epidemia grande, ou questões de acesso a medicamentos”, completou.

O diretor de Patrimônio da ABI, Luis Guilherme Pontes Tavares ressaltou a contribuição do evento para a imprensa da Bahia. “Este evento permite que a imprensa da Bahia possa fazer uma conexão direta com os Médicos Sem Fronteira, porque eles nos apresentaram vários meios para isso, inclusive quem participou do evento vai poder receber notícias regulares da organização. Tudo que aconteceu aqui foi para proporcionar a oportunidade de aproximação da imprensa com a organização, com a participação de um pessoal jovem, bem disposto, e com o compromisso humanitário exemplar e admirável”.

Luana Santos, estudante do sétimo semestre de jornalismo viu o seminário como uma oportunidade de ampliar seus conhecimentos sobre a causa. “Essa é uma causa importante. Precisamos estar atentos e ver como podemos colocar nossa área de atuação à disposição daqueles que necessitam”.

A programação do “Conexões” prossegue até o próximo domingo (4), com diversas atividades gratuitas espalhadas pela capital baiana. Mais informações no site http://www.msf.org.br/conexoes/

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ABI BAHIANA

Médicos Sem Fronteiras realiza seminário de jornalismo na ABI

No próximo sábado (27), a organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) vai realizar um seminário de jornalismo com o tema “Ajuda humanitária em pauta: como cobrir conflitos armados, desastres naturais e epidemias”. O evento acontecerá no auditório Samuel Celestino, da Associação Bahiana de Imprensa (ABI), das 9h às 17h.

As diversas questões que envolvem a cobertura de crises humanitárias serão discutidas pela diretora de comunicação de MSF-Brasil, Ana Lemos; a coordenadora de relações com a imprensa de MSF-Brasil, Cláudia Antunes; o assistente sênior de informação pública do Acnur no Brasil, Miguel Pachioni; e a produtora da TV Globo, Hellen Santos.

Os interessados em participar do evento devem se inscrever através do site: http://www.msf.org.br/conexoes/atividades/salvador/seminario-de-jornalismo

O debate é exclusivo para profissionais e estudantes de comunicação, com prioridade para jornalistas e outros profissionais de mídia, assim como estudantes de Jornalismo e Rádio e TV. Seguindo estes critérios, as vagas serão preenchidas por ordem de inscrição. Os formulários serão recebidos até às 12h de 26 de maio, mesmo que já tenhamos preenchido todas as vagas, pois haverá lista de espera.

Conexões MSF

O seminário de jornalismo faz parte do Conexões MSF, evento que reúne conversas, exposições, filmes, dança, intervenções artísticas e seminários para que a população possa se conectar com o trabalho humanitário que a organização internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) realiza em cerca de 70 países. A diversidade de atividades, todas gratuitas, espalhadas por 15 locais da cidade de Salvador pelo período de nove dias, visa atrair pessoas com os mais diversos interesses, para que voltem seus olhares ao universo da ajuda humanitária e sintam-se verdadeiramente conectadas a ele e às realidades que o compõem.

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Notícias

ABI apoia PEC para antecipar eleição de 2018

O presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Domingos Meirelles publicou uma nota na manhã de hoje (19), afirmando que recebeu com perplexidade as graves denúncias que envolvem o presidente da República Michel Temer. O documento ressalta que “não se pode mais tolerar a sucessão de episódios que envolvem sistematicamente membros da alta corte política brasileira”.

Ainda de acordo com a nota, “é inaceitável que o País seja obrigado a conviver com um novo Chefe de Estado, eleito por um Congresso completamente desacreditado pela população brasileira. A alternativa mais viável diante desse cenário de incertezas seria votar uma Emenda Constitucional que antecipasse as eleições de 2018”.

Confira na íntegra:

 

Rio de Janeiro, 18 de maio de 2017.

 

NOTA OFICIAL

 A Associação Brasileira de Imprensa recebeu com perplexidade as graves denúncias que envolvem o Presidente da República Michel Temer, acusado de acoitar o pagamento de propina para silenciar o ex-deputado Eduardo Cunha detido em Curitiba à disposição da Justiça Federal do Paraná. A mesma denúncia compromete o Presidente Michel Temer em diálogos embaraçosos com o empresário Joesley Batista a fim de contornar problemas financeiros de interesse da J&F, holding que controla a indústria de alimentos JBS.

 A ABI sempre teve compromisso com os primados do Regime Democrático e não pode mais tolerar a sucessão de episódios que envolvem sistematicamente membros da alta corte política brasileira. Espera-se que as denúncias que enodoam a imagem da própria República sejam apuradas com a urgência que o caso requer de acordo com os dispositivos previstos na Constituição Federal.

 A população não pode continuar refém de uma situação que se eterniza sem solução. Não se trata de uma batalha entre o bem e o mal, o pecado contra a virtude, mas uma tentativa de redirecionar a política brasileira dentro de comportamentos aceitáveis, eliminando-se privilégios que se cristalizaram em detrimento dos melhores interesses do povo brasileiro.

 A reputação do Presidente da República foi gravemente afetada por acusações que lhe retiram as credenciais para o exercício do cargo. O Brasil não pode continuar à deriva, exposto a toda sorte de intempéries como uma frágil embarcação, que navega abaixo calado, entre os escolhos da corrupção e dos desvios do poder.

 A centenária ABI, de acordo com seu passado e sua história, considera inaceitável que o País seja obrigado a conviver com um novo Chefe de Estado, eleito por um Congresso completamente desacreditado pela população brasileira. A alternativa mais viável diante desse cenário de incertezas seria votar uma Emenda Constitucional que antecipasse as eleições de 2018.

 

Domingos Meirelles

Presidente da ABI

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