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Não exigência do diploma serve como chantagem contra pleitos de jornalistas

Em seu terceiro evento de comemoração de aniversário, a Associação Bahiana de Imprensa (ABI) discutiu nesta quarta-feira (6) a formação e o mercado de jornalismo. Quase no final do primeiro painel, a discussão já era sobre ética, qualidade e valores da profissão quando uma jornalista emocionada na plateia pediu licença para uma leitura. Sacou da bolsa um livro que tinha na capa a jornalista catarinense Antonieta de Barros (1901-1952) e emprestou para ela a voz. 

“O jornalista não incensa, não bajula, não rasteja, não tem espinha flexível… também não denigre reputações, não mente, não apedreja inocentes, não se deixa cegar pelas paixões pessoais nem pelo sadismo, não se mercantiliza, mas preserva as coisas boas, respeita cada indivíduo como parte de uma coletividade”, declamou Jeruse Romão, ninguém menos que a biógrafa de Antonieta de Barros, que acompanhava a discussão. 

“Eu fiquei emocionada ouvindo o que as professoras disseram. A gente que é da época do jornal de papel sabe. Achei que deveria trazer Antonieta, ela que dizia que não existe sociedade sem imprensa e que brigou para que os jornalistas em Santa Catarina fossem incluídos na Previdência”, lembrou Romão. 

Jeruse Romão declama texto de Antonieta de Barros | Foto: Italo Passos

O evento
As professoras a que ela refere-se são Talyta Singer, professora do curso de Jornalismo da Unijorge, e Priscilla Chandretti, diretora-executiva da Fenaj – Federação Nacional dos Jornalistas, que, sob a mediação da jornalista Suely Temporal, integraram o painel “PEC diploma – a falta que ele faz: o que mudou no mundo dos jornalistas desde 2009”. Atribuindo sua ausência a um choque de agenda, a presidente da Fenaj, convidada para a sessão, enviou um vídeo parabenizando a ABI pelo debate no estado. “É importante continuar defendendo o diploma como critério de acesso pessoal, intransferível e transparente para essa atividade que tem tanta relevância social”, afirmou. 

A falta que ele faz
Priscilla Chandretti, que participou de forma remota, trouxe para a mesa a pesquisa nacional Perfil do Jornalista Brasileiro. O estudo mostra que 98% dos profissionais atualmente contratados como jornalistas cursaram ou estão cursando – 6% são estudantes – Jornalismo ou alguma habilitação relacionada à comunicação. Os dados foram interpretados pela representante da Fenaj como um reconhecimento das empresas da importância do diploma para jornalista. 

“As empresas continuam empregando jornalistas formados, quem busca serviços de assessoria ou de freelancer também. Então, qual o impacto real [da não obrigatoriedade do diploma]? É que paira sobre a categoria há 14 anos a ameaça de que não precisamos de jornalistas formados, que se o jornalista não aceitar os baixos salários, vai ter gente para substituí- los”, argumenta. 

Ela conta que nos bastidores por melhorias de condições no trabalho dos jornalistas os sindicatos só têm tentado “não perder mais”, com poucos ganhos. E acredita que o cenário pode melhorar com a retomada da exigência do diploma, que não cassaria os registros profissionais já emitidos nos últimos anos. 

Durante o debate na ABI, as participações reforçaram a dificuldade dos jornalistas de se verem como classe trabalhadora e de, apesar do grande acesso à mídia, criarem mobilizações em favor da categoria. 

O contexto
A luta pela aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do diploma faz parte de um contexto desfavorável para os jornalistas, que vêm sofrendo com o que Priscilla chamou de “precarização das relações de trabalho”, e para as empresas e o financiamento do jornalismo. “A verba publicitária foi drenada por grandes empresas de tecnologia”, explica Chandretti. 

O presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado da Bahia – Sinjorba, Moacy Neves, lembrou que outros sete pontos, além do diploma, estão juntos com o pacote da Fenaj para melhoria da profissão. Entre os quais, cita: revalidação profissional, fortalecimento do sistema público de comunicação e a criação de um fundo público para fomentar o jornalismo local e independente. 

Em 2009, uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) derrubou a exigência do diploma. Em 2012, o Senado aprovou a PEC 33/2009, que tornaria obrigatório o diploma de curso superior de Comunicação Social/Jornalismo para o exercício da profissão. A matéria praticamente ficou parada desde então na Câmara dos Deputados, sem votação. São necessários hoje 308 votos para a proposta ser aprovada e seguir para sanção presidencial. Durante o evento, incentivou-se que haja uma maior mobilização da categoria no estado e no país. 

O que mudou
Com uma visão acadêmica, a doutora em Comunicação e professora da Unijorge Talyta Singer apresentou conceitos recentes da área, como a construção midiática (e não apenas social) da realidade e dados recentes sobre o jornalismo no Brasil e no mundo a partir dos relatórios do Instituto Reuters. Ela também ilustrou como dependemos fortemente das estruturas das empresas de tecnologias como Google e Meta.

“Instâncias muito cotidianas da nossa vida estão ligadas à plataformização, essa nova infraestrutura para a qual a gente produz informação. É muito difícil para o Ministério do Trabalho saber quantas pessoas trabalham com entrega hoje no Brasil, mas o Ifood sabe, o Uber sabe”, exemplificou. “Até o nosso perfil no instagram não é nosso, é da Meta”, complementou Suely Temporal. 

Talyta discutiu a formação universitária, a mercantilização da formação e mudanças necessárias no currículo, a partir das provocações da plateia. “Era um drama falar de empreendedorismo. Quanto custo, quanto dinheiro precisa para essa redação funcionar? jornalista não falava de dinheiro”, lembra. Nesse contexto, comentou os choques geracionais no consumo de notícias e também destacou aspectos para ter esperança envolvendo esse hábito: as pessoas ainda mais leem do que assistem ou ouvem quando o assunto é notícia, os podcasts mais ouvidos no Brasil são jornalísticos e no X, ex-Twitter, os jornalistas ainda lideram as conversas. 

Comemoração continua
O debate de hoje integra a programação da comemoração da ABI, que segue até o dia 16 de setembro, com encontros semanais no Auditório Samuel Celestino, no terraço do Edifício Ranulfo Oliveira, sede da ABI, na Praça da Sé. O ciclo “ABI, 93 anos vivendo a história do Brasil na Bahia” conta com a produção de estudantes vinculados à Empresa Júnior de Comunicação da Universidade Federal da Bahia, a Produtora Júnior.

Como forma de reconhecimento do papel da imprensa na sociedade baiana, a programação técnico-científica e cultural tem como parceiras incentivadoras as seguintes empresas e instituições: Tribunal de Contas do Estado da Bahia, Prefeitura Municipal de Salvador, Associação Baiana das Empresas de Base Florestal – ABAF, Suzano, Companhia de Gás da Bahia – Bahiagás, Governo do Estado da Bahia e o portal Bahia Notícias.

Confira os próximos eventos do calendário comemorativo:

13/set
Ciclo Temas Diversos
11h30 – Painel: Ética em tempos de comunicação digital e inteligência de dados

>> Yuri Almeida, jornalista e pesquisador, mestre em Comunicação

16/set
9h – recepção aos convidados e público
EIXO 4 – Painel: Vida real no mundo digital  – Cultura, democracia e diversidade
9h30 – painel: Diversidade nas Redações. As redações refletem o perfil da sociedade? Como abordar as diferenças sem estigmatizar?

>> Danila de Jesus, jornalista, professora. Criadora do Guia Diversidade nas Redações

>> Jorge Gauthier, jornalista, criador do primeiro canal LGBTQIA+ do Correio

>> Matheus Lens, estudante de Jornalismo, criador do podcast Fala Preto

11h – Painel: O PL das Fake News ameaça a democracia? O que isso tem a ver com a remuneração da produção jornalística na internet?

>> Orlando Silva, deputado federal, relator do PL das Fake News

>> Ernesto Marques, presidente da ABI

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ABI BAHIANA

ABI celebra 92 anos com reunião e assembleia

O aniversário de 92 anos da Associação Bahiana de Imprensa, celebrado nesta quarta-feira (17/08), foi marcado pela reunião mensal seguida da Assembleia Geral Ordinária de 2022, que recebeu o Relatório de Atividades da Diretoria Executiva e o parecer do Conselho Fiscal sobre as demonstrações financeiras do exercício 2021/2022. Com as contas aprovadas e informes apresentados, o presidente da ABI, Ernesto Marques, convidou os presentes a participarem de um almoço de comemoração às mais de nove décadas de plena atividade da instituição.

O presidente da Mesa da Assembleia Geral da ABI, Walter Pinheiro, reverenciou as contribuições de fundadores e ex-presidentes da entidade, como Thales de Freitas, Ranulfo Oliveira, Afonso Maciel Neto, Jorge Calmon. Ele dedicou também uma homenagem ao jornalista Samuel Celestino, que presidiu a ABI durante 25 anos. “É uma data muito cara não apenas para a imprensa, mas para a Cultura e para a Bahia, face à participação, presença e missões que a ABI se incumbiu durante essa trajetória, atravessando dificuldades, seja de ordem política ou de transformações sociais”. Ele destacou o prestígio da ABI junto à sociedade. “Vamos continuar mantendo a ABI viva, respeitada e admirada pelos baianos. Que isso sirva de semente a ser cultivada da defesa da liberdade de imprensa, na defesa da memória e tudo aquilo que engradeça a cultura baiana”, disse Pinheiro.

“É mais do que um aniversário. É um marco para toda a sociedade”, ressaltou a advogada Christianne Gurgel, vice-presidente da Seção Bahia da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-BA). Representando Daniela Borges, presidente da OAB Bahia, Cristiane reafirmou o compromisso da Ordem de caminhar lado a lado com a ABI. “Nossos propósitos são os mesmos: a cidadania, a dignidade humana”. Ela aproveitou a intervenção para dar uma notícia muito festejada. “Vai ser relançado O Prêmio de Jornalismo Barbosa Lima Sobrinho. Em uma semana vamos publicar o edital”.

Além da Diretoria da ABI, presente na sede da entidade ou por videoconferência, a celebração contou com a vice-presidente do capítulo baiano da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-BA), Christianne Gurgel, representando a presidente da instituição, Daniela Borges; a professora Cybele Amado, diretora do Instituto Anísio Teixeira; o advogado Antônio Luiz Calmon Teixeira; o jornalista e editor do Jornal Grande Bahia, Carlos Augusto; e o diretor Regional Norte/Nordeste Grupo Bandeirantes, Augusto Correia Lima.

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ABI BAHIANA Notícias

Associação Bahiana de Imprensa chega ao seu 88º aniversário

Prisões de jornalistas, empastelamentos e censura explícita. Esse era o cenário, três semanas depois da posse da primeira diretoria da Associação Bahiana de Imprensa (ABI), em 1930

Há 88 anos, 73 jornalistas se juntaram em torno de um sonho: fundar a Associação Bahiana de Imprensa (ABI), para, além de prestar assistência aos profissionais ligados à atividade jornalística, defender a liberdade de expressão e zelar pelo respeito às leis estabelecidas. Esses ideais seriam adiados pela “Revolução de 30”, com a decretação do estado de sítio e severas restrições à ordem pública e às liberdades individuais, apenas três semanas depois da posse da primeira diretoria. A ABI só viria a funcionar em 10 de setembro daquele ano, sob a presidência de Altamirando Requião. Assim, o dia 17 de agosto é momento de relembrar todos os importantes integrantes da história dessa instituição, cuja trajetória está incorporada à própria História da Bahia e do Brasil.

Para o presidente da ABI, Antonio Walter Pinheiro, a entidade preserva sua memória sem perder de vista o futuro e as novas formas de comunicar. “A ABI é vista como uma das poucas instituições apartidárias, comprometida com a verdade, equilíbrio e seriedade dos seus atos. Isto exige vigilância, decisões rápidas e sintonizadas com os interesses da comunidade”, afirma. Ele ressalta o compromisso da ABI com a luta pela verdade, liberdade de imprensa, liberdade de expressão e pela garantia dos direitos humanos.

Pinheiro recorda o seu início na ABI, como diretor-financeiro e tesoureiro, na década de 1980. Em 2011, assumiu a presidência da entidade. “Cheguei à ABI através do saudoso professor, poeta e economista Jairo Simões, um dos responsáveis pela implantação de um novo Conselho Diretor da entidade, mesclando jornalistas com dirigentes de órgãos de comunicação”, lembra. Nessa época, o jornalista Samuel Celestino ocupava a presidência executiva e Jorge Calmon comandava a Assembleia Geral da ABI. “Sem abrir mão das diretrizes que nortearam o idealizador Thales de Freitas, a sensação é a de que conseguimos manter a ABI fortalecida, respeitada e presente junto à comunidade baiana”.

ABI na História

Na foto, Altamirando Requião (primeiro sentado à esquerda), Ranulfo Oliveira (Presidindo a mesa, no centro, de óculos) e Thales de Freitas (No fundo, o mais baixo de todos) em 28 de junho de 1933 – Foto: Arquivo

Autor de levantamento histórico da instituição, o jornalista e pesquisador Nelson Varón Cadena segue estudando o tema. De acordo com ele, o que motivou o surgimento da ABI foi a criação de um tipo de seguridade social para os associados, que teriam benefícios de pecúlio para auxílio funeral, assistência médica e odontológica, amparo na velhice. Mais tarde é que se focou na defesa da liberdade de expressão porque a entidade nasceu durante a ditadura Vargas. “Tiveram papel relevante na entidade Thales de Freitas, como idealizador, e Ranulpho Oliveira, pela sua longa gestão, equilibrada e conciliadora”. (Confira aqui a lista de ex-presidentes da ABI)

Sua relação com a ABI foi iniciada em 1979, com pesquisas na biblioteca e nos arquivos fontes primárias de jornais do século XIX, para um trabalho sobre a história da propaganda baiana (“468 Anos de Propaganda na Bahia”). Em 1980, foi chamado por Jorge Calmon, então diretor do jornal A Tarde, para escrever a memória da ABI. “O jornal me liberou um turno, o da manhã, para que pudesse intensificar a pesquisa a partir de fontes primárias: os livros de atas da entidade”. O livro foi publicado em setembro daquele ano, com revisão de texto do jornalista Beu Machado.

Segundo Cadena, poucas são as associações de imprensa do país que preservam a sua memória. “Para se resgatar a história de uma entidade é preciso matéria-prima, ou seja, documentação. E a ABI teve o cuidado de preservar seus arquivos”. Isso, de acordo com o jornalista, facilitou o trabalho de consulta às fontes. “No meu livro 50 Anos da ABI há centenas de tópicos que podem inspirar pesquisas mais aprofundadas sobre cada tema. Em especial no que diz respeito ao cerceamento da liberdade de expressão durante as ditaduras Vargas e Militar a partir de 1964”.

Edifício Ranulfo Oliveira, sede da ABI, na esquina da Rua Guedes de Brito com a Rua José Gonçalves – Foto: Arquivo

Entre as muitas descobertas durante o levantamento, Nelson Cadena cita uma especial. “Na sede da ABI, foi projetado um abrigo antiaéreo subterrâneo, para a eventualidade de um bombardeio. Estávamos em plena II Guerra Mundial e a costa da Bahia tinha sido torpedeada por submarinos alemães”, relembra o jornalista, que reforça o papel da ABI na história da imprensa da Bahia. “Teve momentos marcantes. A cada período cronológico, uma prioridade. Atualmente, é a capacitação através de seminários e palestras com personalidades que trazem conhecimento e propiciam debates interessantes”, avalia. Para os próximos anos, ele espera “uma ABI mais aberta às novidades do mundo, considerando os novos tempos de transição das ferramentas, plataformas e conteúdos da comunicação”. 

Memória da imprensa

Também pesquisador do tema, o jornalista Luís Guilherme Pontes Tavares integra a diretoria da ABI. Ele destaca as principais contribuições da entidade para a preservação e divulgação da memória da imprensa baiana. Para ele, isso se dá em três perspectivas: “No cuidado que dedica aos acervos bibliográfico, imagético e de objetos afins com a história da imprensa da Bahia; no apoio que oferece para os estudos acadêmicos e autorais realizados por pesquisadores que utilizam tais acervos; e na realização de eventos em que são enaltecidos personagens, fatos e instituições relacionadas à história de nossa imprensa”.

Luís Guilherme é autor do livro 200 anos da imprensa na Bahia, uma publicação que demonstra seu empenho pelo resgate da história da imprensa no âmbito estadual. Segundo ele, a ABI contribuiu em duas etapas dessa publicação: além dos acervos da Biblioteca de Comunicação Jorge Calmon e do Museu de Imprensa terem sido usados como fontes dos estudos realizados, a publicação teve o selo editorial da ABI, que intermediou o patrocínio dado pela Empresa Gráfica da Bahia (EGBA).

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469 anos de Salvador: ABI parabeniza a capital da Bahia

São Salvador da Bahia de Todos os Santos, cidade de tantos epítetos, comemora 469 anos neste 29 de março. A Associação Bahiana de Imprensa (ABI) parabeniza a todos os cidadãos pelo aniversário da capital baiana, a primeira capital do Brasil e uma das mais antigas das Américas.

Nossa cidade se notabilizou por um expressivo conjunto de manifestações culturais, desde a sua gastronomia, passando pela música, arquitetura, pintura, cinema, literatura, artes cenográficas, entre outros elementos responsáveis por sua singularidade. Continuaremos lutando para que Salvador guarde no seu seio as tradições e preserve a memória do seu povo. A ABI segue pronta para denunciar e despertar o interesse da população a conhecer sua história e preservar seu patrimônio.

Lembramos que a data ‘29 de março’ foi definida pelo Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB), após a prefeitura solicitar, em 1945, um estudo para definir o marco, já que nunca foi encontrado um documento que revelasse a data de fundação da cidade. Após pesquisa apurada, historiadores membros do instituto fixaram a data simbólica em que hoje comemoramos o aniversário de Salvador.

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