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Cachoeira recebe Encontro Nacional de Educação Museal

A educação museal ainda não é um tema popular no Brasil, mas deveria ser e estar presente na vida cotidiana. O I Encontro Nacional de Educação Museal (EMUSE), que será realizado nos dias 6, 7 e 8 de julho, na cidade de Cachoeira, no Recôncavo da Bahia, vem para encarar este desafio: debater a Política Nacional de Educação Museal (PNEM) e as estratégias para a sua implementação nos âmbitos federal, estadual e municipal.

A programação, totalmente gratuita, terá apresentações de trabalhos, mesas de debate, encontros de redes, grupos de trabalho, minicurso e atividades culturais. Todas as informações e formulário de inscrição estão em www.emusemuseus.org.

Realizado pelo Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) em cooperação com o Observatório da Economia Criativa da Bahia (OBEC), através de convênio com a Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) e a Universidade Federal da Bahia (UFBA), o EMUSE se concentra no Centro de Artes, Humanidades e Letras (CAHL/UFRB), além de ocupar a Estação Ferroviária de Cachoeira, o Espaço Cultural Hansen Bahia e espaços culturais e públicos da cidade.

No evento, serão destacados temas como o papel da educação museal na promoção da cidadania e iniciativas que dialogam com grupos sociais minorizados e que representem a diversidade social e cultural brasileira. A proposta é promover a participação social concreta, com opiniões, experiências e origens diversas para um debate extenso, qualificado e comprometido com resultados.

A escolha da cidade-sede da primeira edição do evento é proposital: o EMUSE acontece em meio à temporada de celebrações do Bicentenário da Independência do Brasil na Bahia, no local onde as lutas populares se iniciaram, afirmando o compromisso com a diversidade de memórias, patrimônios e histórias na educação museal.

Confira a programação no site oficialhttps://emusemuseus.org/programacao/

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ABI BAHIANA

Museu de Imprensa exibe filme “Medida Provisória” para educandos do Projeto Axé

De olhos atentos, as crianças e adolescentes do Projeto Axé acompanharam todos os detalhes do filme Medida Provisória, exibido na manhã desta sexta-feira (23) pelo Museu de Imprensa da ABI, como parte da programação da 16ª Primavera dos Museus. Após as sessões matutina e vespertina, os jovens conversaram sobre a obra com o pesquisador e graduando em História, Pablo Sousa, que atua também como estagiário do Museu de Imprensa e da Fundação Pedro Calmon.

Com um elenco rico de expoentes do cinema nacional, o filme Medida Provisória, oficialmente lançado em abril de 2022, é ambientado num Brasil futurista mas não muito distante. Na trama, uma inciativa de reparação pelo passado escravocrata provoca uma reação no Congresso Nacional, que aprova uma medida provisória, para enviar todos os cidadãos negros para o continente africano. O longa é uma adaptação da peça Namíbia, Não!, uma tragicomédia escrita por Aldri Anunciação – e que Lázaro Ramos já dirigiu no teatro -, em torno de temas como reparação, representatividade e com potentes discussões sobre racismo e as tensões sociais no país.

“Me identifiquei bastante com o filme, me vi dentro da história, principalmete com ‘Antonio’ [personagem do ator Alfred Enoch], porque as pessoas desacreditavam dele por causa da cor da pele. Já aconteceram alguns fatos comigo, mas aprendi a ser forte contra isso. Cabeça erguida sempre e correr atrás dos meus sonhos”, reflete Davi Pereira, de 16 anos. O jovem morador do Campo da Pólvora chegou ao Projeto Axé há quase cinco anos. “A parte que eu mais gosto é a arte, fazer máscaras, pintura do quadro…”, detalha o educando do projeto, que promove o resgate social de crianças e jovens em situação de vulnerabilidade socioeconômica em Salvador.

Isabela Santos, de 18 anos, confessa que ficou muito emocionada com o filme. “Nós, negros, precisamos lutar pelos nossos direitos. Me identifiquei muito com história”. Isa faz parte do Projeto Axé desde os oito. No Projeto Axé, ela aprendeu muitas coisas, uma delas foi lutar pelo que quer. “Minha área preferida lá é moda, gosto de costurar, mexer com arte. A minha experiência é muito boa. Entrei para aprender alguma coisa, me profissionalizar”, lembra a estudante.

O professor Carlos Victor Pereira, licenciado em Desenho e Artes Plásticas pela UFBA, explica que o Projeto Axé não é como uma escola do ensino formal, trabalha com turmas multisseriadas. Mas é exigência do projeto que todos os estudantes estejam frequentando a escola no turno oposto às aulas na unidade educativa. Segundo ele, é na oficina de experimentação que os alunos desenvolvem os primeiros contatos com as artes visuais.

Carlos Victor atua há quatro anos no projeto e parabenizou a iniciativa do Museu de Imprensa da ABI. “É muito importante que esses espaços de cultura, de produção cultural, tenha um diálogo com a comunidade e Projeto Axé faz parte dessa comunidade do Centro Histórico junto com a ABI. Construímos durante os 365 dias do ano essas parcerias, essas trocas. Ficamos muito felizes quando vimos que a ABI havia proposto essa atividade”, disse.

“Enquanto espaços de produção de cultura, temos um papel muito fundamental de discussão das questões raciais, sobretudo porque nossos educandos são meninos e meninas de periferia. É preciso que eles saibam dessa história que não foi contada. Às vezes, eles acham que vão ficar restritos àquela comunidade de origem, sem perspectiva de futuro. O filme, sem dúvida, é um mote reflexivo para eles. A gente já estava planejando fazer uma sessão com esse filme”, afirma o artista visual. Em breve, o Projeto Axé vai contar com um laboratório de audiovisual.

Debate e outras atividades

A abertura das atividades do Museu de Imprensa da ABI no âmbito da Primavera dos Museus foi com a roda de conversa “200 anos da Independência e outras histórias”. Sob a mediação do 1º vice-presidente da ABI, Luís Guilherme Pontes Tavares, a discussão reuniu o publicitário e pesquisador Nelson Cadena, diretor de Cultura da ABI, Pablo Sousa e Débora Muniz, ambos graduandos em História. (Assista parte 1 e parte 2)

Nos dias 21 e 22, turmas do Projeto Axé foram recebidas no auditório da ABI para atividades como contação de história e confecção da boneca Abayomi. No dia 21, o jornalista e escritor Ricardo Ishmael apresentou para os educandos seu terceiro livro infantojuvenil, “Deu a Louca na Bicharada”, que conta a história de Dudu, um menino negro vítima de bullying, e a sua relação com “bichos falantes”.

Já no dia 22, a professora Telma Holtmann contou a história de Lalá, do livro “A princesa do Olhinho Preguiço”, também de Ricardo Ishmael e com o bullying como tema principal.

Na mini-oficina para confecção da boneca Abayomi, a graduanda em Pedagogia, Emmanuelle Capinan, ensinou o passo a passo para construir esse ‘brinquedo’ cheio de significado.

De acordo com a educadora, essas bonecas de pano artesanais eram feitas nos navios negreiros por mulheres negras escravizadas, usando pedaços de suas vestes, para acalmar e alegrar suas crianças.

Uma versão própria das Abayomi se popularizou através da artesã maranhense Lena Martins, a partir dos anos 80, como elemento de afirmação dos corpos pretos e exaltação das raízes da cultura brasileira.

As atividades tiveram coordenação de Renata Ramos, museóloga da ABI, com o apoio da técnica em restauro Marilene Rosa.

Confira a galeria!

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ABI BAHIANA

ABI e UniRuy avançam nas negociações para restaurar acervo do Museu Casa de Ruy Barbosa

Em visita técnica realizada ao Museu Casa de Ruy Barbosa, na manhã desta quarta-feira (10), o professor José Dirson Argolo, restaurador de obras de arte e especialista em preservação de monumentos e bens históricos, avaliou o estado do acervo do equipamento cultural. A iniciativa faz parte dos esforços da Associação Bahiana de Imprensa (ABI) e do Centro Universitário UniRuy para dimensionar os custos de um projeto de restauro das obras e da Casa. O vice-presidente da instituição, Luís Guilherme Pontes Tavares, e a museóloga Renata Ramos, responsável pelo Museu de Imprensa da ABI, receberam o docente no local.

O Museu Casa de Ruy Barbosa foi erguido sobre a casa onde, em 1849, nasceu Ruy Barbosa, na Rua dos Capitães (atual Rua Ruy Barbosa), Centro Histórico de Salvador. O imóvel original encontrava-se em ruínas quando foi adquirido pela ABI, através de uma campanha de subscrição popular liderada pelo jornalista Simões Filho (1886-1957). O Museu é administrado desde 1998 por meio de um convênio firmado com a Faculdade Ruy Barbosa, instituição pertencente à outra empresa, que posteriormente recebeu o status de centro universitário. Em 2021, o UniRuy e a ABI retomaram as negociações que viabilizarão um acordo para a restauração do Museu e seu acervo.

O acervo é constituído por peças em metal, louça, tecido e gesso, além de estatuetas, telas, mobiliário, livros e documentos diversos que se referem à vida, obra e trajetória de Ruy Barbosa (1849-1923). O “Águia de Haia”, como ficou conhecido, teve uma atuação marcante em mais de cinco décadas da história do Brasil, como jurista, diplomata, jornalista, escritor e político. Alguns desses itens foram subtraídos do imóvel durante o furto ocorrido em setembro de 2018.

O UniRuy se propôs a custear os reparos no imóvel, começando pelo telhado e o inventário, bem como remoção do acervo para um local escolhido pela ABI. Por indicação da ABI, foram contratadas as bibliotecárias Ana Lúcia Albano e Graça Catolino, que coordenarão a equipe técnica responsável pelo inventário. O trabalho começa na próxima segunda-feira, dia 15, e deverá se estender por mais trinta dias, liberando o imóvel para intervenções na estrutura física.

O UniRuy avalia ainda a possibilidade de assumir os custos da restauração das obras de arte e demais itens do acervo museológico. Os entendimentos avançam em reuniões semanais. O objetivo é que o espaço logo esteja em condições de ser reaberto ao público e passe a exercer a sua finalidade, de receber visitantes e principalmente ser um centro de atividades, estudos, pesquisas e divulgação sobre Ruy Barbosa e sua obra.

“Estamos empenhando nossos esforços, juntamente com a ABI, para promover as condições favoráveis à reabertura do Museu, bem como assegurar sua longevidade”, enfatiza Rodrigo Vecchi, Reitor do UniRuy.

Acervo danificado

De acordo com José Dirson Argolo, o tempo fechado e sem manutenção expôs o acervo e o imóvel. Ele comparou as obras com fotos feitas há dois anos, quando realizou levantamento e apresentou orçamento para a restauração e conservação do material. “Encontrei a Casa em condição complicada. Quando fiz a primeira avaliação, as peças estavam em um estado que ainda possibilitava um bom restauro”, lamentou. Uma das obras mais danificadas, segundo ele, é um retrato da esposa de Ruy Barbosa, Maria Augusta Viana Bandeira. “A gente pode limpar, mas a camada de carvão que era o desenho do artista está borrada, porque alguém fez uma limpeza de forma indevida, provavelmente utilizando flanela e álcool. Podemos fixar o que salvou dele, mas não voltará ao que era”, analisou.

“O acervo precisa ser deslocado daqui. E que se providencie a sua restauração, para que possamos conservar para a posteridade esse acervo tão importante sobre Ruy”, alertou. Com os dados coletados hoje, o restaurador vai atualizar e concluir o projeto, revisando os orçamentos que serão encaminhados ao UniRuy.

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Artigos

Cremos na Bahia de Ruy Barbosa

Por Ernesto Marques*

O renomado restaurador José Dirson Argolo começa a recuperar o retrato de Ruy Barbosa em carvão sobre tela, do renomado artista plástico baiano Presciliano Silva (1883-1965). É uma das preciosidades do acervo do Museu Casa de Ruy Barbosa, criado pela Associação Bahiana de Imprensa em 1949, nas comemorações pelo centenário do nascimento do Águia de Haia.

Ao lado do busto do jornalista e jurista, única peça recuperada das 15 subtraídas em rumoroso arrombamento (out/2018), e de outra dezena emprestada ao Tribunal de Justiça da Bahia para as comemorações pelos 170 anos de Ruy, a obra de Presciliano é o retrato fiel da situação que opõe a ABI e o Centro Universitário UniRuy. O que está fora da Casa, está intacto.

A antiga Faculdade Ruy Barbosa, ainda sob o controle de seu fundador, o educador Antônio de Pádua, assumiu a gestão do Museu. Ao comprar a instituição, a UniRuy, manteve o convênio e assumiu a gestão da Casa em 2011, encontrando-a restaurada, limpa e arrumada.

Em visita ao Museu em junho de 2015, ao lado do então diretor de Cultura da ABI, Luis Guilherme Pontes Tavares, constatamos sinais preocupantes de abandono. Danos aparentes nas paredes sugeriam falta de manutenção do telhado (ver na galeria abaixo). A água infiltrada favoreceu a proliferação de colônias de fungos nos móveis e expositores, contaminando o acervo. Quadros raros de Ruy e familiares também danificados. Cobrado, o Centro Universitário fez reparos limitados no telhado. E só.

Como dito por este jornal, fundado por quem nos doou a Casa de Ruy, precisamos, de fato, crer na boa vontade e no decoro dos gestores do Centro Universitário. Mas, se é preciso ver para crer, basta passar pela frente do Museu há anos fechado para considerar crível a hipótese de abandono. Compreende-se, no entanto, a dificuldade de considerar tal possibilidade. Ainda mais em se tratando de estabelecimento de magistério superior que assume o nome de figura da magnitude do jornalista, jurista, político e diplomata.

Crendo na boa vontade e no decoro dos gestores desse estabelecimento, renovamos o crédito de confiança em 2015. Quem, com a responsabilidade que nos pesa sobre os ombros, arriscaria fazê-lo hoje, ao ver apenas a fachada do casarão? Apesar dos muitos pesares, seguimos à espera de algum sinal de boa vontade para entendimento mútuo. Começando pela restituição imediata da posse e pela pactuação justa e honesta de formas e meios restituição de imóvel e acervo, a nós confiados por Simões filho e pela sociedade baiana, nas condições encontradas pela UniRuy.

Antes disso, apostamos, como dito no editorial (16.09) deste jornal, na união de todos quantos possam contribuir para zelar pela memória de Ruy, como fez Pádua, a quem a ABI será para sempre muito grata. Cremos na Bahia de Ruy Barbosa.

>> Texto originalmente publicado pelo Jornal A Tarde do dia 25 de setembro.

*Jornalista e radialista, presidente da ABI.

Ernesto Marques

Veja na galeria imagens

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