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Coletivo de jornalistas checa informações em espaços de mídias religiosas

“Separar o Joio. Guardar o trigo”. Foi sob esse slogan que jornalistas decidiram criar o coletivo Bereia, para checar informações em espaços de mídias religiosas. A equipe acompanha diariamente material publicado em mídias de notícias cristãs e conteúdos desinformativos que viralizam em mídias sociais de grupos religiosos.

“Separar o Joio. Guardar o trigo”. Foi sob esse slogan que jornalistas decidiram criar o coletivo Bereia, para checar informações em espaços de mídias religiosas. A equipe do Bereia acompanha, diariamente, material publicado em mídias de notícias cristãs e conteúdos desinformativos que viralizam em mídias sociais de grupos religiosos. As checagens são transformadas em matérias publicadas no site Bereia. Além disso, o site publica artigos de opinião de especialistas na área de religião e comunicação.

O nome Bereia tem um caráter simbólico para o povo cristão e faz parte de uma narrativa bíblica do Novo Testamento. Conforme o livro de Atos dos Apóstolos 17.10-15, a mensagem de Paulo e seus companheiros foi bem recebida na sinagoga judaica de Bereia, localizada na Grécia, na região da Macedônia. O texto registra um elogio aos bereanos, homens e mulheres, que mantiveram não apenas uma abertura em ouvir as Escrituras, mas de examiná-la. (Os de Bereia dedicaram-se a avaliar se tudo correspondia à verdade. – Atos 17:11)

No texto de apresentação, o grupo se define como “uma iniciativa de organizações, profissionais, pesquisadores e estudantes de comunicação vinculados ao contexto da fé cristã”. “Conhecer e comunicar a verdade é urgente em um tempo marcado pela chamada “pós-verdade” (prática de formação da opinião pública nos quais os fatos objetivos têm menos influência que os apelos às emoções e às crenças pessoais) e pela ampla circulação de fake news (notícias falsas), de desinformação e de informação manipulada, em especial com objetivos políticos”, afirma o coletivo, que tem o apoio da INTERCOM – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação e da Agência Latino Americana e Caribenha de Comunicação (ALC).

Depois de realizada a checagem, ocorre a classificação do conteúdo como Verdadeiro, Impreciso, Enganoso, Inconclusivo ou Falso (saiba o que cada uma quer dizer). “É verificado se os conteúdos propagados que causam desconfiança pela temática e o tipo de abordagem são informativos (verdadeiros) ou desinformativos (imprecisos, enganosos, inconclusivos ou falsos)”, explica a editora geral do site, Magali Cunha. Ela é coordenadora do Grupo de Pesquisa Comunicação e Religião, INTERCOM. A equipe Bereia é formada por jornalistas, estudantes de comunicação e voluntários de outras áreas de formação das ciências humanas e sociais. O conselho editorial do site é formado por cientistas sociais, teólogos, jornalistas que atuam no campo da mídia e da religião.

Entre outras checagens sobre temas polêmicos e virais no meio religioso e político, o grupo publicou um texto sobre como Sérgio Camargo transformou a Fundação Cultural Palmares em reduto ideológico de extrema-direita, desmentiu uma notícia de que “sol forte pode matar coronavírus em 34 minutos” (ler) e que existe lei em análise no Senado “para proibir pregações de igrejas e leitura da Bíblia” (ler), confirmou que o presidente Bolsonaro “interfere na Receita Federal para tentar beneficiar igrejas” (ler) e que o Apóstolo Valdemiro Santiago “oferece semente que cura Covid-19” (ler).

A jornalista Kassia Nobre, do Portal Imprensa, conversou com a jornalista sobre o projeto. Segundo Magali, a recepção do coletivo tem sido positiva. “Há muito poucas críticas de pessoas religiosas incomodadas com a avaliação crítica de religiosos que os conteúdos do Coletivo Bereia provoca. O coletivo recebe muitos e-mails e mensagens por mídias sociais solicitando verificações”, comenta. De acordo com Magali Cunha, até o momento o trabalho é 90% voluntário. “Temos o apoio da organização Paz e Esperança para manter o site no ar e para oferecer pro-labore a dois estudantes que cuidam da assistência editorial e da manutenção de mídias sociais. Nosso objetivo é consolidar o Coletivo para buscarmos financiamento darmos mais substância e estrutura ao trabalho”.

Portal Imprensa – Qual é a importância do combate à desinformação no ambiente religioso, que muitas vezes é fundamentalista? Há resistência deste público na aceitação dessas checagens?

Magali Cunha – A questão é que há cristãos que espalham notícias falsas para defender seus interesses públicos e ainda usam conteúdo religioso como capa para essas ações criminosas, utilizando-se da fé das pessoas de boa vontade que estão nas igrejas. E ainda debocham da fé cristã ao usarem e abusarem das palavras de Jesus “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (João 8.32). Mas por que pessoas cristãs acreditam e ainda ajudam a divulgar e a consolidar as mentiras da internet? É fato que pessoas cristãs são pessoas crentes, que acreditam não só em Deus mas nas lideranças que falam sobre Ele e nos grupos que estão nas igrejas em torno Dele. Com isso, muita gente abusa da boa fé, especialmente daqueles que acabam tendo uma fé ingênua por não terem contado com uma educação cristã consistente, para a crítica. Iniciativas como o Coletivo Bereia, Informação e Checagem de Notícias, são importantes pois ajudam pessoas das igrejas a identificarem falsidades e enfrentá-las. Na Bíblia cristã, a orientação é que espalhar mentiras é um grande pecado, algo que desagrada Deus, o que Jesus atribui como ação do diabo, palavra que significa confusão, classificado como pai da mentira (João 8.44). São muito poucas as manifestações críticas ao serviço oferecido pelo Coletivo Bereia. Há mais apoios e demandas de colaboração.

Leia a íntegra da entrevista neste link.

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