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Crescem homicídios, roubos e saques com a greve da PM

A segunda noite após o início da greve da Polícia Militar na Bahia foi marcada por homicídios, ruas vazias e saques a lojas em Salvador. Segundo a Secretaria da Segurança Pública, houve ao menos quatro saques e nove homicídios na região das 19h de quarta-feira (16) até o início da madrugada desta quinta-feira (17). Vândalos arrombaram e saquearam oito das 34 lojas da rede pública de supermercados Cesta do Povo, que teve uma das unidades incendiada nesta manhã. Os homicídios foram registrados em bairros da periferia de Salvador, como Fazenda Grande do Retiro e Valéria, e em cidades da região metropolitana, como Lauro de Freitas e Camaçari. Já os saques se concentraram na região de Brotas, área de classe média de Salvador.

Supermercados e lojas de departamento foram os principais alvos dos saques/ Foto: Reprodução
Supermercados e lojas de departamento foram os principais alvos dos saques/ Foto: Reprodução

A paralisação segue causando transtornos em Salvador, que convive com casos de saques, fechamento de comércio, suspensão de aulas e escassez de ônibus nas ruas. O policiamento, reduzido, foi feito principalmente por batalhões de elite da PM, como o de choque. Ao menos 26 pessoas foram presas por suspeita de participação em saques ou arrastões. Membros do Exército chegaram à Bahia nesta quarta-feira (16) para assumir o comando da segurança do Estado.

A onda de violência que atinge a cidade não poupou a esposa do pré-candidato ao Senado pelo PMDB, Geddel Vieira Lima, nem o filho do pré-candidato a governador, Paulo Souto (DEM), que foram assaltados na tarde desta quarta-feira (16), em Salvador. No entanto, o governador Jaques Wagner afirmou que a população pode sair às ruas e avalia o movimento de paralisação como eleitoreiro. Para ele, os grevistas não estão acostumados com a abertura de diálogo e estão “apostando no caos para assustar a sociedade e o governo”.

Foto: Cláudio Falcão
Cesta do Povo do bairro de Cajazeiras em chamas na manhã de hoje/ Foto: Cláudio Falcão

Os números da criminalidade na atual greve sugerem aumento da violência após o começo do movimento. Um balanço do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) aponta que 19 pessoas foram assassinadas em Salvador e região metropolitana de 18h de terça-feira (15) até as 19h desta quarta (16) e 38 furtos ou roubos de veículos. Já em Feira de Santana, segunda maior cidade da Bahia, foram registrados 15 homicídios, dois latrocínios [roubo seguido de morte], e quatro autos de resistência, quando há mortes em confronto com a polícia, o que totaliza 21 óbitos.

No Hospital Geral do Estado, localizado na capital, até por volta das 2h30 desta quinta-feira (17) o posto da Polícia Civil registrava a entrada de pelo menos 30 feridos em situações de violência – 22 por disparos de armas de fogo, dois por facadas e seis por lesão corporal. Uma pessoa chegou morta (não se sabe se está incluída no balanço parcial de nove homicídios divulgado no começo da madrugada).

Negociação

Com as ruas desertas, pouca gente se arriscou a circular pela cidade/ Foto: Reprodução/R7
Com as ruas desertas, pouca gente se arriscou a circular pela cidade/ Foto: Reprodução/R7

Enquanto as ruas estão esvaziadas pelo medo, permanece o impasse nas negociações. A categoria, que deflagrou o movimento paredista na noite de terça-feira (15), reivindica aumentos em gratificações, garantias de progressão de carreira e sanções mais brandas no novo código de ética da corporação, entre outros pontos. Uma assembleia está marcada para esta tarde, no antigo parque aquático Wet’n Wild, na Paralela.

A gestão Jaques Wagner (PT) aceitou incorporar algumas reivindicações, como a aposentadoria aos 25 anos de serviço para mulheres policiais e a separação da PM do Corpo de Bombeiros. Mas anunciou na noite desta quarta que não tem como bancar os aumentos nas gratificações. Os principais pontos divergentes são os tickets de alimentação e a anistia para os policiais penalizados na greve de 2012.

Um dos líderes do movimento grevista é o soldado Marco Prisco, vereador em Salvador pelo PSDB. Prisco, que é presidente da Aspra (Associação de Policiais e Bombeiros e de seus Familiares no Estado), foi alvo de duras críticas naquela greve após a divulgação de gravações em que supostamente combinava bloqueio de rodovias e ataques a quarteis. Ele sempre negou qualquer crime e afirma que apenas atuava na mobilização da categoria.

“Nos seis meses de negociação do Grupo de Trabalho, desde junho do ano passado, chegamos a uma proposta final, mas quando o governo apresentou [a Lei de Modernização da PM], no dia 10, só atendeu a 20% da pauta. Foi um retrocesso, principalmente o Código de Ética, ainda referente à Ditadura Militar”, afirmou Prisco.

Leia também: Greve da PM e paralisações pressionam governo baiano

Ainda de acordo com o dirigente, no início da tarde desta quarta-feira (16) ele entregou ao governador uma lista com 37 itens reivindicados pelos policiais. Entre as solicitações estão a reformulação de artigos do Código de Ética da PM, ajustes na regra de Condições Especiais de Trabalho (CET) e no plano de progressão de carreiras, pagamento das gratificações por Atividade Policial – GAPs IV e V – bem como isonomia salarial em relação à Polícia Civil.

A greve da Polícia Militar da Bahia foi considerada ilegal pelo Tribunal de Justiça na manhã de ontem (16). Com o decreto de ilegalidade, cujo pedido feito pelo Ministério Público do Estado da Bahia (MP-BA) e acolhido pela Justiça, todo o efetivo da PM deve voltar imediatamente às atividades para a garantia da segurança pública. Além disso, a Justiça Federal bloqueou os bens de Marco Prisco. Caso não acate a decisão, as associações da polícia terão de pagar R$ 50 mil diários.

*Com informações da Folha de S. Paulo, Estadão, Bahia Notícias e Varela Notícias.

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