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“O público procura por jornalismo investigativo”, diz editor do Post

David Fallis conta como funciona o time de repórteres investigativos do jornal americano e detalha a importância da investigação para o jornalismo e a sociedade: “As pessoas estão dispostas a pagar por um jornalismo de qualidade e acho que o sucesso do Post demonstrou isso”

Em conversa Grupo de Investigação (GDI) da RBS, o editor adjunto de investigações do Washington Post, David Fallis, conta como funciona o time de repórteres do jornal americano e detalha a importância e os desafios da investigação para a redação de uma das publicações mais importantes dos Estados Unidos.

Qual é a importância do jornalismo investigativo em um país como os EUA, onde o presidente tem posição clara contra a imprensa? Esse tipo de jornalismo aumentou sua importância nos últimos anos?
O jornalismo investigativo é sempre importante, não importa o que os funcionários públicos pensem da imprensa. Uma imprensa livre é fundamental para a democracia e uma das nossas principais funções como jornalistas é responsabilizar o nosso governo em todos os momentos.

Quais são os principais desafios às investigações?
O principal desafio com o jornalismo investigativo é que o jornalista normalmente está iniciando o processo com ausência de fatos — é por isso que é investigativo. A reportagem geralmente começa com uma dica ou uma hipótese, mas é o jornalista quem tem de encontrar um caminho de reportagem. Muitas vezes, isso é um desafio. Pode haver documentação limitada, ninguém estar disposto a ser entrevistado. E o processo de reportagem, uma vez concluído, pode levar o repórter a uma descoberta que é muito diferente da indicada pela sugestão original. É por isso que uma reportagem investigativa muitas vezes leva tempo e pode ser uma maratona, não é uma corrida rápida.

Como é a organização entre os jornalistas investigativos do Washington Post?
No Post, temos uma unidade de investigação de 16 repórteres e três editores. Jeff Leen é o editor das investigações, eu sou o editor de investigações adjunto e Eric Rich é o editor da nossa equipe de ataque rápido. Parte da unidade concentra-se em projetos de longo prazo e a outra parte concentra-se em histórias que podem ser feitas em questão de dias ou semanas. O Post também tem mais de duas dúzias de repórteres investigativos em suas várias equipes.

Quais são as aptidões para ser repórter investigativo?
Os repórteres investigativos devem ter domínio dos princípios do jornalismo, incluindo a capacidade de sintetizar material muito complicado e elaborar uma história clara e convincente. Também devem ser extremamente curiosos, muito céticos e altamente criativos.

Jornais com grupos de investigação podem oferecer reportagens exclusivas e diferentes aos leitores. Esta é uma maneira de conscientizar o público, ajudando-o a diferenciar matérias jornalísticas de notícias falsas?
O público é capaz de discernir o jornalismo de qualidade. E também procura por jornalismo investigativo. Quando fazemos reportagens investigativas, ouvimos das pessoas que elas querem ler mais esse tipo de matéria, não menos.

O GDI é formado por jornalistas da TV, rádio e jornal. A equipe multimídia é uma tendência para a redação do futuro?
Uma das mudanças que vi na indústria ao longo da última década é um aumento nas colaborações e parcerias jornalísticas. Embora a indústria seja muito competitiva, estamos cada vez mais trabalhando em parceria com jornalistas de outras organizações e outros meios para multiplicar nosso poder de fogo. Enquanto essas parcerias produzirem boas histórias, elas continuarão.

Há disposição para pagar por jornalismo diferenciado?
Acredito que as pessoas estão dispostas a pagar por um jornalismo de qualidade e acho que o sucesso do Post demonstrou isso. Ouvi pessoas dizerem que assinam o Post porque temos jornalismo de qualidade, incluindo reportagens de investigação.

*Entrevista publicada pelo Observatório da Imprensa – 

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