ABI BAHIANA

Palestra na ABI expõe impactos das fake news turbinadas pelas redes sociais

“O mundo pertence a quem se atreve e a vida é muito para ser insignificante”. Quem nunca viu essa frase circulando na Internet com a assinatura do ator e diretor Charles Chaplin, mesmo anos depois de o escritor brasileiro Augusto Branco reivindicar a autoria do poema “Vida”? Segundo a jornalista Suely Temporal, sócia da empresa de comunicação integrada Agências de Textos, a poeta Clarice Lispector, o Papa Francisco e até o deputado Tirica também vivem “assinando” textos que nunca escreveram. Temporal expôs os impactos das notícias falsas espalhadas na rede – desde a atribuição equivocada de autoria até crimes de maior potencial ofensivo – durante palestra sobre as chamadas “fake news”, nesta quarta-feira (11). O evento inaugura o projeto “Temas Diversos”, uma série de debates idealizada pela diretoria da Associação Bahiana de Imprensa (ABI), para discutir assuntos relevantes da relação entre a imprensa e a sociedade.

Suely Temporal destaca papel do jornalismo na apuração dos fatos – Foto: Joseanne Guedes/ABI

Suely Temporal abordou a crise dos modelos de negócios tradicionais, com a fuga de audiência, as novas ferramentas que servem para buscar a verdade, e o papel do jornalismo na apuração rigorosa dos fatos. Ela reconhece os principais desafios da profissão em tempos de notícias falsas, pós-verdade e polarização política globalizada. “Hoje em dia, é ‘creio, logo existe’”, afirmou a jornalista, em alusão à célebre frase do filósofo francês René Descartes (“Penso, logo existo”, do original “Je pense, donc je suis”). “Não tem como parar esse fenômeno. Precisamos criar mecanismos e não acredito que nos próximos 50 anos isso vá acontecer”. Para Suely, as fake news só expõem a credibilidade do profissional. “Sou jornalista e tenho a obrigação de checar o fato antes de pensar em compartilhar. Isso é validação da informação”.

Uma checagem que, segundo pesquisa divulgada pela jornalista, ainda não se tornou um hábito. “95% dos entrevistados não costumam validar notícia, 80% não consultam outras fontes, 65% procuram via buscadores, 20% consultam amigos e parentes”. Já um estudo realizado pela agência Advice Comunicação Corporativa, por meio do aplicativo BonusQuest, em novembro do ano passado, indicou que 78% dos brasileiros se informam pelas redes sociais. Destes, 42% admitem já ter compartilhado notícias falsas e só 39% checam com frequência as notícias antes de difundi-las.

Entre os motivos que fazem uma pessoa compartilhar um boato de Internet (os conhecidos hoax), Temporal citou a ignorância, o desconhecimento e ingenuidade. “A pessoa não sabe que a informação é falsa e repassa querendo ajudar”. Ou, por outro lado, o desejo de endossar opiniões pessoais. “E tem aqueles que usam o conteúdo sabendo que se trata de uma farsa. Isso é crime”. Segundo ela, a pós-verdade já começa, inclusive, a borrar conceitos e valores necessários para a vida em sociedade. “Há pessoas que preferem mentiras confortáveis a verdades inconvenientes”, constata.

De acordo com Suely Temporal, barrar o processo de divulgação de notícias falsas na Internet é algo bastante complexo. A fonte original pode ser bloqueada, porém, outros milhares difundem. As consequências são imprevisíveis, justamente pela fluidez e descentralização da rede. Além disso, ordens judiciais podem não ser amplamente cumpridas e eficazes em todos os casos. O resultado é a proliferação de um hábito que pode destruir uma reputação e prejudicar alguém, ou causar tragédias, como nos casos de pessoas que têm seus nomes vinculados a crimes e acabam vítimas de violência. A dica é não compartilhar uma informação no calor do recebimento, agir com cautela, desconfiar do conteúdo por mais crível que pareça. Repassar sem ler? Nem pensar.

Diretores da ABI acompanham palestra sobre “fake news” – Foto: Joseanne Guedes/ABI

O presidente da ABI, Antonio Walter Pinheiro, ressaltou a seriedade do tema, principalmente porque envolve liberdade de expressão e liberdades individuais, e destacou a imprensa como fonte primária de checagem daquilo que está sendo noticiado. De acordo com ele, os meios de comunicação tradicionais têm um papel chave no combate às fake news, neste momento em que a avalanche de informações de todos os tipos está disponível. “Esse fenômeno não é uma coisa nova e os tabloides ingleses estão aí para provar isso. O caminho é recorrer aos veículos de credibilidade e acabar com a impunidade. Já existem setores nas polícias para punir autores dessa prática. Quando alguém compartilha, está contribuindo para o problema”, completa o dirigente.

Já estão programadas discussões para as três próximas reuniões da diretoria da ABI: Josair Bastos, presidente do Sindicato das Indústrias Gráficas do Estado da Bahia, dará na reunião de maio um panorama sobre o setor; em junho, o jornalista Paulo Roberto Sampaio vai compartilhar as experiências da época em que atuou como  coordenador de cobertura televisiva da Copa do Mundo, evento esportivo realizado pela FIFA; e o jornalista e poeta Florisvaldo Mattos falará na reunião de julho sobre os 220 anos da Revolta dos Búzios, movimento também conhecido como Revolta dos Alfaiates/Conjuração Baiana.

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Notícias

“Fact Check” do Google está disponível no Brasil

O Google anunciou a chegada da função Fact Check ao Brasil. O recurso promete destacar informações verdadeiras nos resultados de busca e no Google Notícias para reduzir o risco de leitores caírem em notícias falsas. Para diferenciar os conteúdos, a tag “verificação de fatos” vai entrar em funcionamento ao lado do nome do site que publicou a reportagem. A novidade foi lançada em outubro de 2016 nos Estados Unidos e Reino Unido, e depois na França e na Alemanha. Hoje, a checagem de notícias também chega ao México e Argentina. Em todos os países o Google estabeleceu parcerias com entidades que trabalham com fact checking. No território nacional estão envolvidas a Agência Lupa, Aos Fatos e Agência Pública.

Para fugir de notícias falsas, o Google estabeleceu algumas regras que os publicadores de conteúdo devem seguir. Entre os critérios para ganhar a tag “verificação de fatos” está a necessidade da organização ser não partidária e oferecer ao leitor a capacidade de entender o que foi verificado e quais conclusões chegaram. Além disso, é importante que as análises sejam transparentes com citações e referências a fontes primárias. Caso um site não siga as regras para a marcação, o Google poderá remover o veículo ou blog dos resultados de busca.

“A checagem de fatos se firmou como uma área importante do jornalismo nos últimos anos dentro de veículos tradicionais e startups de mídia, que trabalham para averiguar a veracidade de informações sobre mitos urbanos, política, saúde e até a própria imprensa”, diz Richard Gringas, vice-presidente da divisão de notícias do Google, em nota.

Como usar

Para aproveitar o recurso do Google no Brasil basta pesquisar por determinado assunto que tenha notícias envolvidas no campo tradicional de buscas, ou acessar o Google Notícias no navegador web e aplicativos para Android e iPhone (iOS). As informações checadas terão a tag “verificação de fatos” sinalizada próxima ao título. Vale notar que não encontramos muitos exemplos além dos que foram divulgados pelo próprio Google nesta mesma quarta-feira.

Leia também: Redes sociais e redações se unem contra notícias falsas na internet

Além do Google, o Facebook e o Snapchat também anunciaram mudanças contra notícias falsas. A rede social de Mark Zuckerberg está testando um filtro contra boatos nos Estados Unidos e na Alemanha, também em parceria com organizações jornalísticas. No Facebook, caso um post seja considerado suspeito, um alerta “desvaloriza” a informação no feed. Já o Snapchat atualizou as diretrizes do Discover para acabar com informações falsas e imagens chocantes.

*Informações do Techtudo e do G1

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Notícias

Facebook libera recurso para denúncias de notícias falsas

A rede social Facebook liberou em alguns países o recurso que permite denunciar notícias falsas divulgadas na rede social. Estados Unidos, França e Alemanha já podem usar a ferramenta. De acordo com o G1, no Brasil, usuários que usam a plataforma em inglês conseguem visualizar a novidade, mas a denúncia não é enviada porque a função utiliza a geolocalização dos países determinados.

Para usar o recurso, o usuário precisa estar logado no Facebook e clicar em “denunciar publicação”. Uma das opções é “it’s a fake news” (isso é uma notícia falsa). O conteúdo vale somente para publicações com links externos. Após a denúncia, uma equipe da rede social verifica se realmente se trata de um conteúdo falso para sinalizar o post.

A medida da rede social ocorre após a eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos. Usuários, pesquisadores e colunistas de jornais americanos alegam que notícias falsas sobre o candidato podem ter influenciado a votação.

*Informações da Associação Bahiana de Imprensa (ABI)

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