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“Luiz Gama no campo de batalha”: Podcast 451 MHz dedica episódio ao abolicionista

O Podcast 451 MHz dedicou seu vigésimo primeiro episódio ao jurista, escritor e abolicionista Luiz Gama (1830-1882). Ligia Fonseca Ferreira, autora do livro Lições de Resistência. Artigos de Luiz Gama na imprensa de São Paulo e do Rio de Janeiro (São Paulo: Edições SESC, 2020), e Silvio Almeida, advogado, doutor e pós-doutor pelo departamento de Filosofia e Teoria Geral do Direito da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), foram entrevistados pelo editor Paulo Werneck, para tratar da vida e obra do filho de Luíza Mahin. Os convidados debateram a atualidade do advogado autodidata que lutou com as armas do direito e do jornalismo contra o sistema estrutural racista no Brasil.

Paulo considera “Lições de Resistência” como “candidato a um dos lançamentos mais fortes do ano”. Do mesmo modo que fez na live de comemoração aos 190 anos de Luiz Gama, realizada pela Associação Bahiana de Imprensa (ABI), no episódio, a professora doutora Ligia Fonseca Ferreira ressalta a importância do reconhecimento de Luiz Gama para a sociedade brasileira, fazendo uma comparação com o escritor Machado de Assis, nascido no mesmo dia que Gama, nove anos após o jurista. Ela lembra o fato do livro “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, traduzido em inglês e vendido nos EUA, ter esgotado sua primeira edição em menos de 24 horas. (Veja aqui)

Ao ser perguntado sobre como conheceu a vida e obra de Luiz Gama, Silvio confessa nunca ter ouvido falar de Gama durante seus cinco anos de graduação e ainda e todo seu mestrado. Somente entre os anos de 2005 e 2006, quando já atuava no direito, foi que veio se deparar com questões intrínsecas ao fato de ser um advogado negro no Brasil. “Foi nesse momento que eu comecei a pensar no Luiz Gama porque eu comecei a me pensar como advogado. Como advogado negro. Tanto que eu sou um advogado tributarista”. Um advogado especialista em direito econômico, advogado que trabalha com direito empresarial, eu tenho escritório que trabalha com isso há 10 anos”, relata.

Em resumo sobre o episódio, o site da revista Quatro Cinco Um destaca alguns trechos de Silvio onde ele opina que o desconhecimento da vida e obra de Luiz Gama no país é “índice da miséria moral, intelectual e política” dos cursos de direito e do Brasil de hoje. “O papel que eu assumi, junto com a professora Lígia Ferreira, foi trazer o Luiz Gama para o campo de batalha”, complementa o advogado.

O podcast 451 MHz pode ser ouvido gratuitamente no site da revista e também nos principais tocadores de podcasts. Ele é publicado na primeira e na terceira sexta-feira de cada mês. A direção é da jornalista Paula Scarpin, da Rádio Novelo, start-up de podcasts que produz o 451 MHz para a Associação Quatro Cinco Um.

Acesse o episódio

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Jornais baianos investem em transmissões ao vivo através de plataformas digitais

Em tempos de pandemia, mais da metade da população baiana permanece em casa, como única forma de evitar a contaminação pelo novo coronavírus. Segundo dados da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), o isolamento social no estado já chegou a ser de 53,33%, em 22 de março. Para aproveitar essa nova realidade, veículos baianos marcados pela circulação de seus jornais impressos têm se mostrado perspicazes no uso das plataformas digitais, em especial do Instagram e das transmissões ao vivo, as famosas “lives”. Os três maiores jornais impressos da Bahia, Correio*, A Tarde e Tribuna da Bahia, intensificaram a presença online neste período, apostando em projetos que vão desde programas de entrevistas até boletins e newsletters com as principais matérias publicadas.

O Correio*, jornal de maior circulação no estado, antes mesmo da pandemia já havia adotado a estratégia, não apenas no Instagram, mas também no Facebook. “Junto com a Rede Nordeste, que é um grupo formado pelos três maiores jornais da região, já tínhamos uma grade de transmissões”, relata Wladmir Pinheiro, jornalista e mestre em cibercultura pelo programa de pós-graduação da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. Ele atua como  coordenador de mídia digital e colaborador do veículo da Rede Bahia há mais de dez anos.

Leia também: Atividade jornalística no ambiente digital: O marketing tem a ver com isso?

De acordo com Wladmir, a emergência da pandemia fez o Correio* mudar o recorte e obter maior engajamento com os leitores. Com transmissões ao vivo que pontuam entre seis e 30 mil visualizações, o Correio* tem apostado em debates emergentes como saúde e bem-estar. “A audiência é importante, mas se não estiver bem alinhada às estratégias de assinatura são números quase vazios”, pondera o jornalista.

A Tribuna da Bahia, com 50 anos de história, tem sua primeira live no Instagram registrada no dia 26 de maio. A mediadora de todas as transmissões realizadas até então é Fan Teixeira, jornalista, colunista do jornal e apresentadora do programa Balaio de Gato, exibido pela TVE. De acordo com a colaboradora da Tribuna, “o projeto visa abrir o diálogo entre o jornal e a sociedade de forma objetiva e direta, trazendo à luz e ao debate temas mais comentados da atualidade, através de entrevistas com personalidades do cenário nacional”.

A Tribuna conta com as estratégias da Loft Comunicação, agência responsável pelo setor de marketing digital do veículo. De acordo com Fan, “a ideia das transmissões é estar conectado durante esse período de pandemia com o maior número possível de seguidores que, leitores ou não do jornal impresso, cheguem às redes em busca de uma conversa inteligente, acessível e com conteúdo atual e de qualidade”, explica a jornalista.

O Correio* ressalta ter crescido cinco vezes em visitas no Instagram, e aumentado em mais de 20% o número de seguidores. No digital, tem tido recorde de acessos. “Cada canal tem sua estratégia, que é definida de acordo com um plano maior de engajamento, relevância e assinatura. O desempenho é avaliado de acordo com essa estratégia maior”, ressalta Wladmir Pinheiro.

Com a Covid-19, o Instagram viu o uso das transmissões ao vivo crescerem em 70% somente durante o mês de março. Há cerca de um mês, em maio, as lives passaram a poder ser salvas no IGTV, aplicativo de vídeo secundário ao Instagram e pertencente ao Facebook. Antes as publicações só podiam ser salvas durante 24 horas. 

A Associação Bahiana de Imprensa (ABI) procurou o A Tarde para tratar dos resultados da investida do Projeto A Tarde Conecta, divulgado no site da Associação, mas não obteve retorno até o fechamento desta matéria. O jornal tem feito também transmissões a partir da fanpage no Facebook. 

Encontre as transmissões ao vivo dos veículos citados nesta matéria em: 

A Tarde 

Correio* 

Tribuna da Bahia

 

*I’sis Almeida é estagiária de Jornalismo da ABI
Supervisão: Joseanne Guedes

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Atividade jornalística no ambiente digital: O marketing tem a ver com isso?

Com a era da plataformização, o jornalismo e outras áreas da comunicação, como o marketing, se viram inseridos num novo contexto de produção. Ambos os setores com o passar dos anos ganharam o acréscimo da palavra “digital”, uma forma de mensurar o fato de que agora, com o ambiente de múltiplas plataformas surgidas com o advento da Internet, incluindo as redes sociais, esses setores da comunicação podem fazer usufruto da imensidão de possibilidades do mundo virtual. 

Não é incomum encontrar workshops e minicursos de marketing digital voltados para profissionais da imprensa. Este é o caso do webinar “Marketing Digital para jornalistas” que o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado da Bahia (Sinjorba) promoverá no mês de junho, com a especialista Samara Barreto. A atividade conta com apoio da Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj).

De acordo com Moacy Neves, presidente do Sinjorba, essa relação com o marketing digital ou simplesmente com as ferramentas digitais “sempre foi um tabu do jornalismo”. Ele explica que “tanto o mercado de trabalho quanto as oportunidades oferecidas pela tecnologia quebraram muitas dessas barreiras”, explica. Segundo o presidente, um profissional da imprensa ao conhecer o mínimo das ferramentas que profissionais de marketing digital dominam, “acaba tendo uma mudança na visão do produto que disponibiliza ao público”. 

A facilitadora Samara Barreto é proprietária da Innovate, empresa desenvolvedora em projetos de web sites, gestão de conteúdo para redes sociais e desenvolvimento de sistemas e aplicativos para Iphone, Ipad e Mac. Especialista em marketing digital pela Universidade Candido Mendes, Samara confia na ideia de que “os pilares do marketing digital para jornalistas podem criar comunidades de dezenas e milhares”. “Podemos oferecer um conteúdo de qualidade em condições de ser acessado por um número cada vez maior de pessoas”.

Para entender as possíveis interseções entre o jornalismo online e o marketing digital, conversamos com especialistas do setor e veículos locais a fim de compreender quais são os limites da atuação de um jornalista, que hoje precisa, para além de possuir conhecimentos sobre técnicas de apuração, abordagem e escrita, conhecer o mínimo possível das ferramentas digitais para atingir as expectativas do mercado. 

Jornalismo digital x Marketing digital

 Vitor Peçanha, co-fundador da Rock Content, empresa global de Marketing, destaca que o marketing digital “é o conjunto de atividades que uma empresa (ou pessoa) executa online com o objetivo de atrair novos negócios, criar relacionamentos e desenvolver uma identidade de marca”. Já o jornalismo digital, frequentemente chamado de ciberjornalismo ou jornalismo online, de acordo com Carlos Castilho, do Observatório da Imprensa “tende a ser praticado num conjunto de plataformas integradas, onde o sucesso depende do êxito das demais”. De acordo com as informações do texto de Castilho para o Observatório, “o jornalismo digital está virando um quebra-cabeças editorial”

Para Liliane Ferrari, não há influência direta do marketing digital no jornalismo, mas sim um impacto das técnicas digitais que afetam todo conteúdo publicado na Internet. Liliane é jornalista consultora e professora de Mídias Sociais do MBA Universidade de São Paulo (USP) ESALQ – uma modalidade de pós-graduação Latu Sensu, eleita uma das 10 mulheres mais influentes na Internet pelo IG. Ela afirma observar ótimos conteúdos jornalísticos, mas que “não entendem nada do que é um título que precisa chamar muito mais atenção para a notícia, uma foto que é um arquivo nomeado, sobre usar hiperlinks e outros recursos de mídia”, diz. “Nesse sentido vejo que o jornalismo é impactado não pelo marketing digital mas pelas técnicas, pelos algoritmos da Internet”, analisa.

Lize Antunes é professora de “Marketing Digital e Produção e Gestão de Conteúdo para Multiplataformas” dos cursos de graduação em Comunicação Social no Centro Universitário Jorge Amado (Unijorge), incluindo a habilitação em jornalismo. “Antes de questionar a possível influência do marketing digital na atuação jornalística, talvez questionaria o impacto da Economia Digital no setor. Vivemos em um contexto da hiperconectividade, em que as interfaces digitais estão cada mais ditando nossos modos de estabelecer conexões”, avalia a docente.

Para as duas especialistas, a produção de conteúdo, em posição de protagonismo cada vez maior, é a principal interseção. Antunes pontua sobre a generalização por parte do mercado, onde um estagiário de jornalismo, por exemplo, tenha “noções básicas” de marketing digital. “Isso é um erro, pois o marketing digital é uma atividade bastante complexa”, alerta. “É importante olhar para o marketing digital como parceria do jornalismo; são áreas que se completam e se beneficiam mutuamente quando trabalhadas em conjunto”, explica. 

Liliane chama atenção para o marketing digital ser o braço de uma técnica para vender e não acredita na necessidade do jornalismo assumir o mesmo discurso do marketing. “O jornalismo precisa se adaptar ao formato internet, o tipo de chamada, a entender como funciona o Twitter para fazer uma grande chamada”, a exemplo. Para ela, nos dias atuais, quem entende as técnicas digitais tem infinitas chances de se dar melhor. “É muito comum a gente ver conteúdos que são muitos bons, matérias que são excelentes mas que são completamente desprovidas de qualquer técnica digital”, conta. 

“Se a gente pegar um BuzzFeed, eles entenderam muito bem o que é o ambiente digital e como o jornalista deve trabalhar nesse ambiente. Qual o tipo de chamada, como ilustrar como gerar uma interação”, exemplifica Ferrari. “É muito mais preparado quem entende dessas técnicas do que quem simplesmente ignora o básico do que a gente chama de SEO (Search Engine Optimization)”. 

Veículos locais

Seja na Bahia ou no âmbito nacional, existem veículos tradicionais surgidos em períodos anteriores à chamada “revolução digital”, quando ferramentas de pesquisa como o Google passaram a se tornar o principal mecanismo de busca para informações cotidianas da população. “É interessante ver, por exemplo, como veículos seculares, caso do Estadão ou Folha de São Paulo, se revelam nessas novas dinâmicas. Em ambos os casos, vemos uma parcela de jovens jornalistas assumindo as “caras” do Drops, cada vez mais populares dos Stories no Instagram do Estadão, ou Café da Manhã, podcast da Folha”, ressalta Lize Antunes.

Priscila Espinheira, comunicóloga, analista de marketing digital na Loft Comunicação, cuida da parte de marketing e mídia da Tribuna da Bahia (TRBN), criado em 1969 e considerado o terceiro maior jornal da Bahia. Segundo ela, a Tribuna está online há três anos. Existe a Tribuna da Bahia virtual, “que é nosso jornal impresso inserido no ambiente digital, chamado de Edição Virtual, além dos perfis oficiais nas principais redes sociais do mundo”. Segundo a analista da Loft, com as ferramentas de marketing implementadas na Tribuna “a constância do trabalho proporcionou métrica de envolvimento ascendente”. Para Priscila, “uma audiência engajada é mais importante que quantidade numérica de curtidas ou seguidores no perfil”.

O Nordesteusou, veículo comunitário fundado por Jefferson Borges e Gerson Assis, já nasceu no digital. Tudo começou quando o Jefferson, de 29 anos, também colaborador do setor de marketing da Rede Bahia, ainda estava na graduação. Foi quando ele resolveu criar um veículo que ressaltasse os pontos positivos do Nordeste de Amaralina, bairro de Salvador. “Na época o Facebook existia mas ainda não era forte, então começamos a fazer comunidades no Orkut, eu já inseria os conteúdos pensando no contexto de digital”. 

Foto/Reprodução: Equipe Nordesteusou

Hoje o ‘Nes’, como Jefferson se refere ao veículo, é mantido pelo trabalho voluntário de seus colaboradores. Ele e mais três pessoas atuam na área de marketing, focando sempre em levar mais pessoas para o site, através das chamadas nas redes sociais. Existe ainda a equipe de jornalismo, com um coordenador e três estagiários voluntários, além de uma equipe de produtores culturais. São 12 pessoas trabalhando diariamente em notícias sobre o Nordeste de Amaralina, e também notícias em nível nacional. O Nordesteusou contabiliza 100 mil seguidores, contando com o Instagram, Twitter, YouTube e Facebook, este último ele ressalta ser a sua maior base de engajamento. 

A Mega Rádio VCA nasceu há sete anos, idealizada por profissionais atuantes em rádios de Vitória da Conquista-Ba e atualmente é gerida por um grupo de sócios: Edson José (Maciel JR.) Mário Marcos Borim e Marcos Primo. Toda programação é direcionada ao site e “desde o início buscava-se a construção de uma rádio diferente do modelo tradicional, o que se tornou um lema levado a sério”, afirma Maciel Jr. De acordo com o gestor, “foi entendido desde a criação da Mega Rádio que é de fundamental e vital importância o investimento no meio digital para garantir a uma satisfatória estratégia de marketing”. 

O futuro da “comunicação digital”

Para Liliane Ferrari o caminho para o futuro da comunicação seria descompartimentalizar. “Temos poucos profissionais chegando no mercado com uma visão mais abrangente, até porque essa visão não é dada”. As pessoas mais atentas à essa questão são os profissionais mais experientes no mercado, afirma a jornalista. “Eu vejo muitas pessoas fazendo conteúdo na internet seja publicitário ou jornalístico, sem o menor conhecimento do que a internet faz com o conteúdo dele, de como aquele conteúdo performa nesse ambiente”, acrescenta. 

A professora Lize acredita que a interdisciplinaridade – interação entre jornalismo, marketing digital, publicidade e áreas concomitantes – já existe. “Já é o presente. O mercado exige que o profissional de comunicação seja plural, e é importante olhar para essas dinâmicas de conexões desse contexto que nos envolve e tirar proveito disso para uma melhor atuação”. “O ambiente digital nos permite aprendizados a todo instante; devemos ter noção disso pois, atuando em comunicação, necessariamente nos faremos presente no digital”, complementa.

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*I’sis Almeida é estagiária de Jornalismo da ABI

Edição: Ernesto Marques |Colaboração: Joseanne Guedes

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Casa Ninja atrai diversidade cultural na 2ª temporada em Salvador

Quem adentra o casarão bem em frente à Praça Colombo, no Rio Vermelho, bairro mais boêmio de Salvador, mal reconhece o espaço onde funcionava o Red River Café, restaurante dedicado à classe média alta, fechado em 2016. O local antes ocupado por 120 mesas para atendimento ao público de elite, agora recebe um fluxo de pessoas muito diferentes do que por ali já foi visto. A Casa Ninja, iniciativa de uma das redes de comunicação livre mais conhecidas – senão a mais conhecida do país –, a Mídia Ninja, está funcionando no antigo estabelecimento. O projeto está em sua segunda temporada em Salvador. Em 2019, o endereço da Casa era na Barra.

A Mídia Ninja foi criada durante as manifestações de junho em 2013 e ganhou notoriedade por causa das coberturas que realizou de dentro dos protestos. As principais ferramentas para acompanhar as manifestações eram dispositivos móveis e o meio de divulgação, as redes sociais. Segundo os fundadores, a Mídia é resultado das ações desenvolvidas pelo circuito Fora do Eixo, uma rede de coletivos culturais surgida no final de 2005. Reconhecida internacionalmente, a Ninja, em 2014, foi definida pelo jornal The Washington Post como um grupo “interessado em apresentar uma narrativa alternativa aos principais meios de comunicação, informando ao vivo da linha de frente”.

A Associação Bahiana de Imprensa (ABI), conversou com Dríade Aguiar, uma das fundadoras Ninja, dentre outros responsáveis pelo projeto, para saber quais as principais diferenças entre a primeira e a segunda temporada da Casa Ninja; e quais são as expectativas até o dia 08 de março, quando está previsto o encerramento das atividades de verão do projeto em Salvador. 

O espaço – Bem de frente para o mar da orla do Rio Vermelho trabalham os cinco colaboradores responsáveis pela Casa. São eles: Dríade, Felipe, Lisa, Slash e Phil. No primeiro ambiente do espaço, é possível visualizar em um quadro improvisado, feito de cartolinas e preenchidos por post-its, a programação do projeto, pelo menos até o meado de fevereiro. No dia 2, durante a tradicional festa em homenagem a Iemanjá, aconteceu, por exemplo, a “Feijoada Ninja”, oferecida pela Casa e realizada pelo “Afrochef” Jorge Washington. A atividade foi nomeada como “Culinária Musical” e contou com a apresentação da cantora Denise Correia, da Banda “Na Veia da Nega”. 

Virando à esquerda, mais adiante, é possível visualizar a antiga cozinha do Red River, onde agora são preparadas as refeições dos colaboradores Ninja e de outras atividades que acontecem no local. No salão principal, destacam-se as paredes pretas e o gradil que separa a mesa de trabalho de Dríade e o restante da equipe com vista para as águas do Rio Vermelho. É ali também, no mesmo salão onde fica localizado o palco por onde já passaram nomes como Anielle Franco (irmã da ex-vereadora Marielle Franco, assassinada em 2018), Guilherme Boulos (ex-candidato à presidência pelo PSOL) e a reconhecida socióloga e ativista baiana, Vilma Reis.

Dríade Aguiar – Fundadora Ninja | Foto: I’sis Almeida (ABI)

Origem do projeto – A Casa Ninja é, segundo Dríade, resultado de uma demanda de ações territoriais (ou seja, no âmbito físico) que a Mídia Ninja decidiu realizar logo após o impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff e a confirmação da candidatura do atual presidente Jair Messias Bolsonaro. Ela conta que tudo começou com um processo de pesquisa de público para realização de ações em todo país. “O resultado acabou nos levando a atender a um chamado”, afirmou a gestora. A Bahia correspondeu a 70% do índice de respostas da pesquisa enquanto consumidores de conteúdo e interessados pelos debates e ações desenvolvidas a partir da Mídia e Fora do Eixo.

Temporadas – A primeira temporada da Casa Ninja esteve em Salvador durante o verão de 2019. Dríade Aguiar afirma que estar no Rio Vermelho tem sido “um pouco diferente” da temporada na Barra. No ano anterior, a estratégia era movimentar o público da cidade para rodas de conversa, oficinas, ensaios e uma programação intensa que ocorria no bairro da Barra, predominantemente, no lado de fora da Casa, no passeio de frente à orla local, ou seja, na rua. “Quando a gente veio para a Barra, no ano passado, foi muito na ideia de balançar as coisas. Ali tem uma mistura. Turistas, moradores, mas também tem uma galera de prédio, que não concordava com a nossa presença naquele local. Então, estar na Barra misturaria um pouco as coisas e causaria um choque”, explica Dríade.

Já a segunda temporada tem sido bem diferente, principalmente no que diz respeito ao público que está participando da programação. A Casa abriu um edital para inscrições de atividades e, a partir dele, vem montando uma grade de programação diversa, atraindo diversos públicos que não apenas os consumidores de conteúdo da Mídia Ninja. Além de rodas, oficinas, palestras e eventos direcionados a reflexões sociais e políticas, a organização tem intensificado o investimento em cultura, cedendo a casa para realização de shows e outras manifestações culturais. Os cinco colaboradores que trabalham diariamente na atual temporada também se dividem em visitas a locais de Salvador que não necessariamente são visibilizados pelo poder estatal e pela mídia tradicional. O objetivo, de acordo com o grupo, é construir uma grande rede de fortalecimento para o ativismo. 

Por que Rio Vermelho? – Segundo os colaboradores, o Santo Antônio Além do Carmo e o Rio Vermelho sempre eram indicados por moradores de Salvador. A escolha do Rio Vermelho se deu primeiro pelas inúmeras indicações, bem como pela parceria estabelecida com a Associação Bem-te-vi, também proprietária da conhecida Casa Rosa, localizada no mesmo bairro, mas ainda não inaugurada. “Quando a gente pensou em vir para este espaço, também pensamos na história que reescreveríamos aqui”, ressalta Dríade Aguiar. “A Mídia Ninja é financiada através das doações dos nossos seguidores. É por isso que falamos sempre sobre a importância de financiar e colaborar com o ativismo, pois entendemos que, no contexto político em que vivemos, a saída é colaborativa! ”, exclama a gestora.

Quem está na casa? – A entrada para as atividades realizadas via edital estão sendo no estilo “pague o quanto puder”. No entanto, a contribuição não é obrigatória e para pessoas trans ou não binárias, não é realizado nenhum tipo de cobrança para quaisquer eventos da programação. Essa é uma política adotada pela Mídia Ninja, especialmente entendendo que, para que pessoas trans possam participar de atividades culturais da Casa, ou de qualquer outro espaço, é preciso viabilizar o acesso, bem como fazer com que as mesmas se sintam seguras no local. “Estamos abertos quando a pessoa não quer doar. Isso está servindo também para entendermos o público, para entender o que traz, quem está vindo protagonizar naquele determinado dia”, destacou Dríade.

O público tem variado de acordo com quem está se apresentando. E para a equipe responsável pela Casa, isso tem impacto positivo para a produção. “Quando fazemos uma noite LGBT e periférica, temos uma expectativa diferente de quando fazemos MPB. E estamos felizes nos dois, pois isso tem servido para entendermos e mapearmos nosso público”. A programação vem sendo publicada sempre através das redes sociais. “A gente tem divulgado a programação semanalmente. Então, se você acompanhar nosso Instagram, aos domingos, sai tudo o que rola na semana”, garante Dríade.

Para mais informações: acompanhe a Casa Ninja no Instagram

*I’sis Almeida é estagiária da ABI, sob a supervisão de Joseanne Guedes.

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