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Professor Leonardo Costa toma posse como novo diretor da Facom

Com a presença do corpo docente, representantes discentes, servidores técnicos, do vice-reitor Paulo César Miguez e do reitor João Carlos Salles, tomou posse na tarde desta segunda (29) a nova diretoria da Faculdade de Comunicação (Facom) da UFBA. Composta pelo professor e produtor cultural Leonardo Costa, como diretor, e o professor e jornalista Washington de Souza Filho, como vice, a gestão assume com o objetivo de dar continuidade e ampliar as ações desenvolvidas pela direção anterior, encabeçada pela professora Suzana Barbosa. O evento ocorreu de maneira online e contou também com a participação da deputada federal Alice Portugal (PCdoB), parceira de longa data da instituição. 

O professor Leonardo Costa assumiu a direção saudando as gestões anteriores, as quais ele pôde observar e aprender. “É a partir do trabalho de quem buscou contribuir com nossa faculdade que miramos o futuro, numa realidade que desafia a universidade pública”, afirmou. Os presentes recordaram dos desafios impostos à educação no Brasil atualmente, em meio aos cortes nas áreas de ensino e pesquisa, os bloqueios orçamentários, os ataques às universidades e, por fim, a pandemia, que trouxe a necessidade de inovação do modelo de ensino que se usava até então. 

“Temos uma faculdade que se projeta nos tempos atuais. A todo momento buscamos repensar nossas práticas e ampliar o nosso alcance. Queremos, de forma continuada, reforçar o espírito de coletividade e de bem estar nas nossas relações interpessoais”, completou o novo diretor. 

Washington, agora vice, fez coro às palavras de Leonardo. “Em geral, os resultados têm demonstrado a qualidade dos docentes, a atuação dos estudantes, além da atuação dos servidores técnico-administrativos. A realidade dos bons resultados, porém, é de muito esforço. O empenho é o que permite justificar a condição alcançada”, ressaltou. O professor evocou o histórico de inovações que marca a história da Facom desde o começo, como o terceiro curso de Jornalismo a ser fundado no país, a implantação do curso de Produção em Cultura e a caminhada para a implantação do ciclo de formação em Cinema e Audiovisual. 

Gestão de adesão

Elogioso com a qualidade das instalações e ao ensino da Facom, o reitor da UFBA, João Carlos Salles, também reafirmou o desafio que é gerir uma instituição pública nestes tempos. Porém, ressaltou que, acima das dificuldades, permanece o horizonte de construir um espaço que acolha os estudantes, permitindo que eles possam se desenvolver e que seja um lugar onde estejam protegidos das mazelas que os atingem em outros espaços. “A emoção que nos liga à instituição é por saber que nela nem sempre encontraremos aplausos, que erraremos também muitas vezes. Mas, erraremos na convicção de que estamos construindo uma instituição pública, de qualidade, uma instituição que expressa os melhores valores”. 

Os professores dão continuidade ao seu histórico de atuação na e pela Faculdade de Comunicação. Como reforça o reitor, a adesão dos professores à gestão da faculdade torna-se mais que um emprego. “Esse contexto de adversidades nos faz compreender muito bem que a entrega à gestão não pode ser algo separado das tarefas de ensino, de pesquisa e de extensão. Trata-se de um projeto de vida e de nação que se imbricam”, declarou. 

Emoção

No encerramento de sua gestão, a professora Suzana Barbosa agradeceu, emocionada, a todo o corpo de trabalho que a apoiou durante os oito anos em que esteve na diretoria, desde os servidores e funcionários terceirizados, até os professores e ao próprio Leonardo Costa, que também foi seu vice. “Eu me sinto muitíssimo honrada e gratificada por ter colaborado para elevar ainda mais o nível de excelência desta faculdade, que há 34 anos vem formando profissionais e pesquisadores na área da comunicação”. 

“Somos uma área imprescindível. A Facom tem dado contribuição ímpar e possui, merecidamente, seu lugar de referência tanto local quanto nacionalmente, também reverberando a sua qualidade internacionalmente”, afirmou Suzana. A nova gestão deve permanecer na direção até o ano de 2025. Já no próximo ano, irão lidar com o desafio de manejar uma retomada segura das atividades presenciais. Alguns desafios são novos, outros são os mesmos. “Leo e Washington, agora caberá a vocês iniciar uma nova etapa. Desejo boa sorte, disposição, firmeza. Sabem que contam com meu apoio”, completou Suzana.

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Jornalistas e pesquisadores debatem desinformação e algoritmos no Goethe nesta quinta (18)

O Goethe-Institut Bahia realiza na próxima quinta-feira (18) o evento Checando os Fatos: Desinformação, Algoritmos e Novas Mídias, em modelo híbrido, com plateia presencial, no teatro do Goethe-Institut, no Corredor da Vitória (Salvador), e transmissão pelo Youtube, a partir das 18h30.

O debate contará com a cientista de dados, pesquisadora e educadora analítica Carla Wosniak (do Cappra Institute), com a jornalista Danutta Rodrigues, editora-chefe do portal G1 Bahia, que falará sobre o processo de apuração e checagem das informações na rotina de produção das notícias, e com o pesquisador André Lemos, que é professor da Faculdade de Comunicação da UFBA e coordenador do LAB404. A mediação da conversa ficará por conta da jornalista Silvana Oliveira, diretora de jornalismo da Rádio Sociedade da Bahia.

O evento é promovido pelo Goethe-Institut Salvador-Bahia, como parte do seu compromisso em discutir questões relevantes globalmente. O Goethe informa que a participação do público de modo presencial será mediante inscrição no site sympla.com.br/goethebahia. Ainda de acordo com a organização, apenas 50% da capacidade do teatro será ocupada e haverá distanciamento entre os assentos. Na entrada, também será exigido o comprovante de vacinação (duas doses ou dose única).

SERVIÇO
O quê: Checando os fatos: desinformação, algoritmos e novas mídias
Quando: 18 de novembro, às 18h30
Onde: Teatro do Goethe-Institut, no Corredor da Vitória, com transmissão ao vivo pelo Youtube GoetheBahia
Evento gratuito.
Para assistir presencialmente, inscrições no sympla.com.br/goethebahia

Com informações do Goeth-Institute Salvador-Bahia

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“Não seremos servos do absurdo”, diz reitor da UFBA

Por João Carlos Salles*

1. A universidade deve sempre lembrar à sociedade um valor essencial da vida democrática, qual seja, a precedência da palavra sobre qualquer outro instrumento de poder. É nosso dever prezar a argumentação, não a agressão, não o ataque, a polêmica simplesmente. E isso, dados e argumentos, nosso ato “Educação contra a barbárie” trouxe, sendo também um exemplo de nossa unidade e natureza.

A universidade tem lá suas ambiguidades. Pode ser apenas um espaço das elites, de reprodução, de competição, até de preconceitos. Mas nós sabemos que essa não é sua verdade. Ela é sobretudo, e hoje mais que nunca, o espaço da ampliação de direitos, o lugar de enfrentamento dos preconceitos, o lugar da colaboração e da criatividade. É lugar de ciência, cultura e arte. E incomoda muito por isso.

Sendo o lugar da palavra, ela pensa a palavra, vê os limites da palavra, e não aceita o cerceamento de suas posições, nem o desrespeito aos direitos que nos são garantidos pela Constituição. Não é aceitável, por exemplo, o desrespeito à sua autonomia na escolha de dirigentes; tampouco qualquer ajuste de conduta. Afinal de contas, não há o que ajustar em nossa conduta política, científica, artística ou cultural.

Devemos assim reagir a quaisquer ameaças, fazendo prevalecer o que nos é próprio, por exemplo, quando lidamos com os limites das próprias palavras, que são o instrumento de nosso trabalho; e, por isso, apenas nós mesmos podemos dizer o que é inaceitável, à luz dos melhores argumentos.

Enquanto servidores públicos, somos servidores do Estado, e não servos de governantes. E, ao que nos consta, todo código de conduta do servidor público afirma que nós devemos pautar nossas decisões pela ciência e não pela ignorância. É próprio, então, da dignidade da função e do cargo de um servidor público pensar no interesse do comum, procurar o bem comum, e não apenas proteger suas opiniões, interesses particulares ou preconceitos. E nossa arma fundamental, garantida na constituição, é o exercício da autonomia, visando à produção do conhecimento.

2. Tivemos diversos ataques ao uso de expressões na universidade. Nós que somos da área de filosofia não podemos deixar de refletir sobre os usos da linguagem. Sopesamos palavras e argumentos. A atenção à linguagem, o cuidado com a linguagem, nos é fundamental na vida universitária. E isso ultrapassa o interesse do filósofo. O uso da linguagem não pode, afinal, servir à mera agressão, sendo nosso dever imediato e estratégico restabelecer uma base comum para a sociabilidade, uma capaz de garantir os interesses coletivos e de longa duração do Estado, sendo a educação exatamente isso, uma aposta de longa duração do Estado – não pode assim ser reduzida, amesquinhada.

Pensemos casos extremos de uso das palavras. No uso da linguagem, sabemos que, por vezes, nós nos valemos de algumas contradições como um forte recurso expressivo; a contradição serve-nos assim como modo de sugerir o inefável, o que não se deixa expressar. Não é outro o recurso de Santa Tereza de Jesus, ao tentar dizer isso que ultrapassa todo limite, o êxtase místico, o contato do temporal com o divino: “Vivo sem viver em mim, / E tão alta vida espero, / Que morro porque não morro”.

A contradição é um recurso literário forte, que pode ser tortuoso e, todavia, proveitoso. Como em Euclides da Cunha, que, desafiado a definir o sertanejo, constrói um dos mais célebres oximoros de nossa literatura, uma combinação de palavras de sentido oposto, que parecem excluir-se mutuamente, mas ajudam a sugerir matizes imprevisíveis. “O sertanejo é, antes de tudo, um forte”, diz Euclides; e, para traduzir isso, usa um raro oximoro, “Hércules-Quasímodo” – recurso questionável talvez como leitura antropológica, mas sensacional em sua expressividade, com o qual Euclides resgata a força do sertanejo, a quem faltaria, contudo, “a plástica impecável, o desempeno, a estrutura corretíssima das organizações atléticas”.

A contradição parece conseguir sugerir alguma coisa, mas outras não parecem sugerir coisa alguma, salvo o absurdo. Qual o sentido, então, de ser proibido dizer “O presidente é genocida”, e de vermos, país afora, professores, técnicos ou estudantes serem perseguidos? Por que essa combinação tem gerado processos, intimidações? Afinal de contas, a combinação não parece ferir a gramática, e toda sociedade brasileira neste momento se debruça sobre esta questão: há responsabilidade no caso da pandemia?

Ora, os termos ‘presidente’ e ‘genocida’ podem vir juntos em uma frase. Não há uma incompatibilidade lógica ou gramatical. Tampouco haveria sentido jurídico em limitar o que pode ocorrer no âmbito de alguma consideração sociológica, política ou epidemiológica. Entretanto, creio que há uma razão profunda para a proibição. E devo admitir que têm razão aqueles que desejam banir essa combinação. Ela, simplesmente, repugna à cultura, fere o bom gosto, ultraja o bom senso. Não se pode esperar nada que preste dessa combinação. Em suma, ultrapassa todos os limites admitir que um presidente possa ser genocida, assim como jamais podemos aceitar que um genocida seja presidente.

Da mesma forma, se temos uma mínima formação, se não estamos embrutecidos, esperamos que um estadista seja acolhedor, solidário, que tenha compostura. Certamente, um estadista (como qualquer um de nós) tem sua opinião particular, seu interesse de grupo, mas ele só se torna um verdadeiro estadista por ser capaz de colocar o interesse comum acima do seu próprio; por ser capaz de submeter sua opinião, que é particular, ao crivo da ciência, cujas proposições são, essas sim, passíveis de demonstração, de prova, de reconhecimento pela comunidade científica.

Um estadista não precisa ser um acadêmico. Aliás, já tivemos acadêmico que não julgou tão importante estender o benefício do acesso às universidades a camadas mais amplas da população. Nesse sentido, até o acadêmico pode ser ignorante. Em suma, acadêmico ou não, o verdadeiro estadista deve ser capaz de dialogar e de dar ouvidos à academia, aos saberes mais refinados, assim como valoriza o saber de seu povo. Deve ser culto, em um sentido mais profundo, pelo qual honra o cargo e lhe confere dignidade.

Um estadista preza a vida acima de todo e qualquer interesse. É assim inadmissível a combinação “estadista ignorante”. Não se pode acreditar que tenha estatura de estadista quem se mostra rude, sem compostura, quem desdenha a vida, ameaça, agride, desrespeita a liberdade de imprensa, a autonomia universitária, a liberdade de cátedra e de expressão. Nunca será um estadista quem, enfim, é incapaz de solidariedade, quem favorece o embrutecimento e a violência, quem prefere as armas aos livros.

3. Nosso ato surge, pois, em um momento limite para nossa sociedade. Em um momento em que instituições fundamentais da cultura estão sob ataque e somos nós os julgados agora por nossas decisões. Não podemos mais, por todas as razões aqui apresentadas, por todos os argumentos, por todas as palavras, deixar de expressar nossa repugnância à barbárie.

E devemos expressar nossa repugnância também à barbárie que se disfarça em meios aparentemente racionais. É a barbárie que temos chamado de “polidez destrutiva”. Repito aqui a citação (que antes fiz na abertura do segundo congresso virtual da UFBA) de um texto de Theodor Adorno, que, em palestra de 1967, mais de duas décadas após a segunda guerra mundial, refletiu sobre o retorno de movimentos fascistas na Alemanha, em uma constelação perigosa de meios racionais e fins irracionais, quando a irracionalidade dos fins contamina e falseia a suposta racionalidade dos meios:

Não se deve subestimar esses movimentos – insistia Adorno – devido a seu baixo nível intelectual e devido a sua ausência de teoria. Creio que seria uma falta total de senso político se acreditássemos, por causa disso, que eles são malsucedidos. O que é característico desses movimentos é muito mais uma extraordinária perfeição de meios, a saber, uma perfeição em primeiro lugar dos meios propagandísticos no sentido mais amplo, combinada com uma cegueira, com uma abstrusidade dos fins que aí são perseguidos. [ADORNO, Th. Aspectos do novo radicalismo de direita. São Paulo: Editora Unesp, 2020, p. 54.]

E um desses fins que está sendo perseguido é o de desmonte, o de destruição, o de desconstrução da universidade pública, gratuita, inclusiva e de qualidade. Assim, agora utilizando meios mais silenciosos, vemos dirigentes substituírem a agressão antes feita no Twitter pelo recurso de uma redução orçamentária atroz, com a qual fazem, a pretexto da crise, uma escolha demolidora, desmontando e destruindo a aposta que a sociedade fez e deve continuar a fazer na educação – aposta que, como nos ensinaram países civilizados, é ainda mais certa e necessária em momentos de grave crise.

4. Nosso ato denuncia. Com imensa voracidade e rapidez, com consequências ainda mais terríveis, em razão da pandemia, o deserto cresce. Avolumam-se as ameaças, aprofunda-se o caos. Mas, se o deserto cresce, diz também nosso ato, não há de crescer dentro de nós.

Confiamos assim que nosso ato não há de encerrar-se em si mesmo. Um ato sozinho não tece a manhã, como nos ensina João Cabral de Melo Neto, em um de seus mais conhecidos poemas, “Tecendo a manhã” [Publicado em A educação pela pedra, de 1965] – no qual, aliás, com grande arte, usa a incompletude dos versos, a materialidade de versos levemente interrompidos, para suscitar a bela imagem da construção coletiva de uma manhã.

No poema, frases incompletas (como “De um que apanhe esse grito que ele”) se sustentam, porém, em frases seguintes (como “e o lance a outro; de outro galo”), de sorte que o verso/grito, em vez de cair, se mantém suspenso e se eleva por outro verso/grito que o continua e, na trama entretecida, o completa.

Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.

E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.

Um ato se quebra, se não for acolhido por outro. Um grito se torna silêncio, caso não reverbere em outro. Que se construa, então, uma trama; e, em cada novo ato, em cada fala, em cada gesto, ao nos mobilizarmos e ao realizarmos nosso dever cotidiano de ensino, pesquisa e extensão, todos possamos dizer. Não seremos reféns do absurdo. Nunca seremos cúmplices da destruição. Jamais seremos servos da barbárie.

Exatamente porque somos servidores públicos, servidores do Estado, e não servos do governo, somos os que não podem aceitar certas combinações de palavras; somos os que nunca podem ser cúmplices, reféns ou servos do absurdo. E encerramos este ato, dizendo mais uma vez não à barbárie e dizendo sim à educação.

E viva a universidade pública!

Salvador, 18 de maio de 2021.

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Emiliano José lança livro autobiográfico no Congresso da UFBA

Um mergulho nos tempos do terror. Talvez seja esta a melhor definição de “O cão morde a noite”, décimo quinto livro do jornalista e escritor Emiliano José. São mais de 400 páginas, onde a ditadura militar, nascida em 1964, aparece de corpo inteiro, com prisões, torturas, o arbítrio em estado puro. O livro publicado pela Edufba, editora da Universidade Federal da Bahia, tem prefácio assinado pelo filósofo João Carlos Salles, reitor da instituição de ensino. O lançamento ocorre virtualmente, durante o Congresso da UFBA, nesta terça-feira (23), às 16h30, com participações de Salles, dos jornalistas Adilson Borges e Mônica Bichara, e do próprio autor. O evento abre o 31º Festival de Livros e Autores da UFBA. (Confira ao vivo pelo canal da Edufba no Youtube)

Escrito em primeira pessoa, a obra se diferencia dos outros 14 livros já publicados pelo escritor, autor de muitas biografias: Carlos Lamarca, Carlos Marighella, padre Renzo Rossi e a última, sobre Waldir Pires, em dois volumes. Mas, apesar de ser autobiográfica, está longe de ser relato exclusivo da vida do autor. “É uma outra natureza. Nesse 15º livro, eu inauguro um caminho de falar em primeira pessoa, e de revelar-me mais, segundo as minhas memórias e lembranças. É diferente de todo o resto que produzi até hoje, e onde portanto abro o coração. Falo aquilo que penso e dialogando permanentemente com o leitor, numa espécie de roda de conversa à beira de fogueira lá no sertão”, adianta Emiliano José.

Segundo ele, esse livro dá a chance de o leitor conhecer o autor. “Tento revelar mais da minha subjetividade. Revelo rapidamente um bocado da minha formação teórica, de como nasceu a minha militância política, de como eu era um cristão conservador e passar à militância revolucionária a partir de certas influências. O leitor agora vai conhecer mais o autor dos 14 livros anteriores, conhecer também a minha família, suas desditas e suas belezas”, destaca o jornalista.

Um livro em transe

“O cão morde a noite” não aborda apenas a década de 60, ele invade a década de 70, que é quando Emiliano é preso e solto, em finais de 1974. “Eu analiso esse período, um período duro, de terror, do AI-5, período em que o filho chorava e a mãe não via, e que vai de 13 de dezembro de 1968 até a assunção do general Ernesto Geisel, que assume em 1974, com a promessa da distenção lenta e gradual, mas no entanto continua a matar”, conta Emiliano. Para o autor, seu mais novo livro relata e recorda tanto os sonhos, esperanças e utopias de uma geração quanto o terror, a ditadura, as mortes, as prisões, os sequestros e os desaparecimentos. “É um livro que toca numa ferida, a existência de uma ditadura que não podemos esquecer e cujo espectro nos ronda até hoje, não só pelas lembranças em todos nós sobreviventes, mas pelas posições declaradas desde a campanha pelo atual presidente, um admirador da morte, da tortura e da ditadura”, observa.

“O texto de Emiliano é com um tecido em transe, corpos correndo, corpos sendo afogados, sangue no pulso e na boca. Grito e silêncio. Transe. O trato feito consigo mesmo de nada delatar é como um pacto com a história, e ora se afirma, ora se vê desafiado. No caso de Emiliano, nunca se afrouxa. Morto, vivo, desmaiado, acordado – transe. Como tudo tem nome, tem data, no texto cinematográfico de Emiliano!”, elogia João Carlos Salles.

“É como se ele pudesse nos reconstituir cada cena e cada personagem chamando-as pelo nome. Em alguns momentos, tão intensa a trama e a narrativa que chegamos a sentir-lhes o cheiro. Esse livro, então, assim meio em transe, como um filho de cinema novo, como um Corisco que não se entrega, é um canto que marca muros e mentes, assim como um dia, em Salvador (e em parte, para protegê-lo, tornando pública sua prisão), apareceu a pichação ‘Liberdade para Emiliano’.”, registra o reitor no prefácio.

Serviço

Lançamento do livro “O cão morde a noite”

Dia 23/02 (terça-feira), às 16h30

Congresso Virtual UFBA 2021

Ao vivo pelo canal da Edufba no Youtube (clique aqui)

>> JOSÉ, Emiliano. O cão morde a noite / Emiliano José. – Salvador: EDUFBA, 2020. 426 p.

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