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No Dia da Mentira, evento no Goethe-Institut aborda “fake news” e aponta confusão no uso do termo

Você acredita em tudo que lê? Tem o hábito de compartilhar notícias que chegam por aplicativos de mensagens? Especialistas apontam que as redes sociais e o universo informacional do século XXI facilitaram o escoamento de notícias enganosas de maneira rápida e eficiente, embora espalhar intencionalmente informações falsas seja uma prática com longa tradição histórica. O projeto Memórias Contemporâneas, realizado pela Fundação Pedro Calmon (FPC/Secult) em parceria com o Goethe-Institut Salvador, iniciou sua temporada 2019 com o debate “Fake News”. O evento reuniu, no dia 1º de Abril – popular Dia da Mentira –, profissionais da imprensa, professores e estudantes, para discutir os desafios no combate à fabricação de notícias fraudulentas.

Foto: Fernando Franco/ABI

“Dinheiro falso não é dinheiro. Por que uma notícia falsificada seria notícia? Se é fake, não é news. Se é news, não pode ser fake”, advertiu a jornalista Malu Fontes, professora de Jornalismo da Faculdade de Comunicação da UFBA, com pós-doutoramento em Fake News pela UBI-Portugal. Responsável por mediar a discussão, Fontes criticou o que chamou de “polissemia” do termo. “Chamam tudo de fake news. Uma ‘barrigada’ é fake news, um furo que não se comprovou é fake news, jornalismo manipulado, jornalismo opinativo… É um fenômeno muito caro para a nossa profissão”, analisa. “A maioria dos países não usa mais essa expressão. Eles preferem o termo ‘disinformation’, para falar da falsa informação deliberada e espalhada para influenciar a opinião pública ou obscurecer a verdade”, explica.

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Para Malu Fontes, é preciso entender que fake news é comunicação estratégica. “É algo muito organizado, com objetivo de enganar, ganhar dinheiro ou destruir reputações. E o jornalismo é o triunfo do spoiler. Por mais criativo que seja o seu lead, por exemplo, você já começa respondendo às perguntas mais básicas, dizendo a verdade”. A professora, que também atua como articulista/comentarista da rádio Metrópole FM e do jornal Correio*, identifica uma espécie de aniquilamento dos veículos. “O que ficou no lugar foram as notícias falsificadas”, lamentou.

Democracia em xeque

O veterano Alexander Busch foi um dos convidados da noite. Há mais de 25 anos o alemão é correspondente da América do Sul do grupo editorial Handelsblatt (que publica o semanário Wirtschaftswoche e o diário Handelsblatt) e do jornal Neue Zürcher Zeitung. Busch, que cresceu na Venezuela e estudou economia e política em Colônia (Alemanha) e em Buenos Aires (Argentina), vive e trabalha entre São Paulo e Salvador. Ele falou sobre os efeitos das fake news nas sociedades democráticas. “A divulgação priva o cidadão do acesso à informação que lhe é garantido por lei na maior parte das nações”, defende.

Foto: Fernando Franco/ABI

Para ele, o fenômeno cria uma desconfiança nas instituições e, consequentemente, a perda da credibilidade dos meios de comunicação, que já enfrentam uma onda de aversão e hostilidade. “É um instrumento muito adequado para esse momento de uma política autocrata, uma corrente de política que quer oferecer os seus instrumentos autoritários para a sociedade. Fake news é para desestabilizar uma sociedade, gerar e aumentar a desconfiança nas instituições, no seu próximo e aumentar a demanda por soluções fáceis”, destaca o autor da coluna “Tropiconomia”, na Deutsche Welle (DW).

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Alexander Busch salientou o despreparo da Justiça Eleitoras no Brasil para lidar com o problema, que, segundo ele, está longe do ápice. “Ainda vai se agravar, porque vejo a profissionalização das fake news. O modelo no mundo atualmente é o autoritarismo na economia, na sociedade e na política”. De acordo com ele, o combate às fake news é uma luta por democracia e a imprensa tem papel essencial na batalha para proteger a integridade das informações e expor notícias falsas. O jornalista não acredita em mudança em curto prazo e disse que nos próximos cinco anos a função de correspondente vai mudar drasticamente. “Os países estão querendo olhar para si. As mídias vão ficar cada vez mais provincianas. Estou preocupado com o rumo das coisas”, admitiu.

Jornalismo-cidadão e perspectivas

Na rua, ao vivo e sem cortes. Essa é a aposta dos membros da rede de comunicação livre Mídia NINJA – Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação. Com uma perspectiva mais otimista, Rafael Vilela, um dos fundadores do coletivo, levou ao debate a visão de quem faz jornalismo independente e retrata o cotidiano das cidades quebrando a narrativa da grande imprensa. Para ele, o Brasil viveu um período progressista e agora está passando por um contra-ataque conservador. “Somos otimistas. Toda crise é uma oportunidade para debatermos assuntos importantes”, pontuou.

De acordo com Vilela, a disseminação de notícias falsificadas pode influenciar positivamente na postura dos jornalistas. Ele falou do papel da imprensa neste momento de instabilidade política no país e relembrou o início da Mídia Ninja, no auge das manifestações de 2013. “Transmitimos pela internet, disputando espaço com as emissoras. As pessoas acreditavam mais na nossa cobertura, com celulares e estrutura precária, do que na narrativa da mídia tradicional e seus equipamentos caros. O bom jornalismo pode ser feito a partir de uma comunicação sincera, que vai às ruas, que olha para as pessoas”, afirmou.

Foto: Fernando Franco/ABI

Formado em Design pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), o fotojornalista reconhece os riscos e o poder das notícias falsificadas, mas acredita nas ações de enfrentamento. Como sinal do engajamento da sociedade, ele citou o movimento “vira-voto” ocorrido nas últimas eleições presidenciais, quando eleitores se uniram para conquistar apoio ao candidato Fernando Haddad. “Cada vez mais pessoas estão conscientes e buscando transformação. Essa disputa não vai acabar agora”.

Questionado sobre os mecanismos de fact check, ele considera insuficientes. “É uma forma de resistir, uma parte do trabalho. Mas a gente não pode achar que a solução para a crise da desinformação é checar dados. O desafio é muito mais profundo, envolve o caminho da informação até as pessoas, educar para a interpretação da notícia. A gente provoca que cada um seja um checador no dia a dia”, conclui. Na próxima a Mídia Ninja lançará o “Ninja Hackerspace”. Com base no Rio de Janeiro, o projeto vai reunir profissionais para criar aplicativos, analisar big data e desenvolver tecnologia e ferramentas de mobilização social.

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ABI BAHIANA

Sessão especial na ABI exibe documentário sobre o Caso Geovane

Preso, torturado, degolado vivo, queimado, esquartejado. O trágico destino de Geovane Mascarenhas de Santana, cujo assassinato por policiais militares em 2014 ficou posteriormente conhecido como “Caso Geovane”, será lembrado na sede da Associação Bahiana de Imprensa (ABI). No aniversário de 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, 10 de dezembro, a Sala Roberto Pires, exibirá às 18h o documentário “Sem Descanso” (2018). A obra, do cineasta francês Bernard Attal, narra a saga de Jurandhy Silva de Santana em busca de seu filho, desaparecido após uma abordagem policial no bairro da Calçada, em Salvador.

No dia 13 de agosto de 2014, uma reportagem do jornalista Bruno Wendel para o jornal Correio* revelava o desaparecimento da vítima. Segundo a matéria, uma câmera de segurança flagrou o momento em que Geovane, de 22 anos, foi levado no fundo de uma viatura. Dois dias após a publicação ganhar as ruas, o corpo carbonizado foi encontrado. As investigações chegaram a 11 policiais, que foram denunciados pelo Ministério Público por homicídio, sequestro e ocultação de cadáver.

O documentário Sem Descanso foi lançado no dia 17 de novembro, durante o Panorama Internacional Coisa de Cinema, mais relevante evento de cinema da Bahia. De acordo com Bernard Attal, a série de reportagens “Onde está Geovane?”, produzida pelo jornal Correio*, motivou a realização do filme. Attal, que divide o roteiro com a jornalista e produtora cultural Fabíola Aquino, destaca a importância do jornalismo investigativo. “Achei muito bacana porque o jornal acompanhou o pai, não deixou a história cair”. Para ele, o desfecho do caso só foi possível por causa da obstinação de Jurandhy, que não descansou até saber o destino do seu filho.

“Sem descanso” foi dedicado a Sérgio Costa, que morreu em 2016 e era editor-chefe do jornal Correio* quando o crime aconteceu. De acordo com Bruno Wendel, o papel de Costa foi fundamental para a continuidade da apuração. A obra, inclusive, conta com depoimentos de Sergio Costa, Bruno Wendel e Juan Torres, editor do jornal na época. Pela série de reportagens, Bruno Wendel foi indicado ao Prêmio ExxonMobil de Jornalismo (antigo Prêmio Esso) e venceu o Prêmio OAB de Jornalismo.

A sessão ambientada na ABI dispõe de 20 lugares. Para ter acesso, os interessados devem enviar um e-mail de confirmação de presença (RSVP) para <[email protected]>. No Edifício Themis, vizinho do Edifício Ranulpho Oliveira, onde está situada a sede da ABI, há um estacionamento. Acesso pela Rua D’Ajuda.

 

Serviço

Exibição do filme “Sem descanso” (2018)

Data: 10/12/18, às 18h

Local: Sala Roberto Pires (sede da ABI – 2º andar do Ed. Ranulpho Oliveira – Rua Guedes de Britto, 1 – Praça da Sé)

Entrada franca (20 lugares)

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ABI BAHIANA

Assaltantes furtam parte do acervo da Casa de Ruy Barbosa, em Salvador

O Museu Casa de Ruy Barbosa, no Centro de Salvador, foi assaltado no último final de semana. Os criminosos levaram peças da instituição pertencente à Associação Bahiana de Imprensa (ABI) e administrada através de um convênio firmado desde 1998 com o Centro Universitário UniRuy | Wyden (antiga Faculdade Ruy Barbosa).

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ABI BAHIANA

Livro sobre convergência entre esquerda e direita é lançado pela ABI

A Associação Bahiana de Imprensa (ABI) lançou na tarde de ontem (26) o livro “Esquerda X Direita e a sua convergência”. A obra é fruto do debate realizado pela entidade, em maio deste ano, com o jornalista e advogado Joaci Góes; do professor, engenheiro e escritor Fernando Alcoforado; do professor de Ciência Política, Paulo Fábio Dantas; e do jornalista e doutor em Filosofia, Francisco Viana, em comemoração ao Dia Mundial da Liberdade de Imprensa. O lançamento reuniu profissionais ligados à atividade jornalística e terminou com uma sessão de autógrafos com dois dos autores.

Foto: Joseanne Guedes/ABI

O presidente da ABI, Antonio Walter Pinheiro, destacou que a publicação propõe uma reflexão sobre o papel da imprensa no contexto da democracia, apontando o respeito à pluralidade de opiniões e posicionamentos ideológicos como valores centrais da atividade jornalística e da liberdade de imprensa. “Este livro chega num momento muito apropriado. Hoje, há uma confusão grande sobre o que é de esquerda e de direita. Queremos que o livro possa contribuir para questionar, aprimorar o exercício da política e fortalecimento da democracia”, afirmou o dirigente.

Foto: Joseanne Guedes/ABI

O professor Fernando Alcoforado agradeceu o convite e se referiu a ABI como a “casa da democracia”. Ele falou sobre o clima de polarização política no país, a escalada da violência, principalmente contra os profissionais de imprensa. “As questões que eu coloquei parecem estar se materializando. Na época em que escrevi, dia 3 de maio, a situação não era tão grave, o confronto entre esquerda e direita não havia assumido tais contornos”. Para ele, “qualquer que seja o vencedor da eleição, seja Bolsonaro ou Haddad, há riscos relacionados à governabilidade”.

Alcoforado citou “três aspectos fundamentais” para que a governabilidade aconteça. “O primeiro é que o presidente da república precisa ter o apoio das elites econômicas e financeiras, o segundo, ele tem que ter maioria parlamentar”. Por último, o professor mencionou o apoio da sociedade civil. “Minha preocupação é que nenhum dos candidatos corresponda a esses elementos. A única forma de uma sociedade fraturada convergir é convocando uma assembleia constituinte exclusiva para debater o futuro do país”, opinou.

Foto: Joseanne Guedes/ABI

“Nossa sociedade está fraturada desde 64, quando a direita tomou o poder. E mais: essa fratura tinha acontecido dez anos antes, com o suicídio de Getúlio Vargas. E essa fratura só tem uma causa: a exclusão social”, defendeu Francisco Viana. Para ele, nunca houve governo de esquerda no Brasil. “A esquerda brasileira nunca oprimiu ninguém, muito pelo contrário, ela foi vítima de uma opressão radical. A extrema direita, por sua vez, sempre foi, além de opressora, ilusória”.

De acordo com o jornalista, não há risco para a democracia no Brasil de hoje. “Isso é uma fantasia inventada pela direita, que pela primeira vez na nossa história teve a coragem de mostrar a sua cara, com o seu candidato. Isso só enaltece a democracia, que garante que todas as correntes políticas se expressem”. Viana classificou o momento atual como um acirramento. “É preciso se debruçar sobre a história. Aí eu vejo o valor deste livro. Um dia, em algum lugar do futuro, ele vai ser lembrado como um documento que tentou espelhar a questão brasileira, com suas lutas de classe, com suas diferentes correntes, mas com uma visão humanística”.

O vice-presidente da ABI, Ernesto Marques, discordou de Francisco Viana sobre a ausência de risco para a democracia. “Um dos candidatos não pode estar nas ruas porque foi alvo de um atentado que poderia ter tirado sua vida. E por mais que eu seja contrário ao seu discurso, que agride cotidianamente segmentos minoritários, não se pode admitir atos violentos”, justificou. No entanto, ele concorda com a tese de que nunca houve governo de esquerda no Brasil. “Acredito que a melhor defesa entre esquerda e direita seja a defesa da democracia. Tanto na direita quanto na esquerda há tentações autoritárias e pouca disposição, em alguns segmentos dessas correntes de pensamento, com o contrário”.

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